Após ler os jornais do dia, ocupava-me em ler “O Diário da Crise”, uma serie de artigos de Durval de Noronha Goyos Junior, bem elaborado trabalho sobre o mundo e os acontecimentos nas áreas social, política e principalmente econômica.
O autor preocupou-se em analisar aspectos da fenomenologia mundial – dos quais fogem a maioria dos analistas. Mostra um conhecimento profundo e valioso do fenômeno chinês que vem ocupando lugar de destaque no panorama global.
Ocorreu que a par de tomar conhecimento do livro vi nos jornais que o prefeito Valdomiro Lopes cogita visitar a China em busca de investimentos em Rio Preto. Não há como negar a pujança e o desenvolvimento dessa cidade. Porém há fatores circunstanciais a que estão sujeitas todas as regiões e ao administrador verdadeiro cabe como que prever o futuro e agir de acordo com os interesses da comunidade que lhe cabe dirigir.
Há dados dos quais um verdadeiro administrador não pode se abstrair. Por exemplo:
A – extensão territorial do município é pequena;
B – não há matéria-prima no município em quantidades capazes de suprir indústrias de base, tais como minerais, madeiras, produtos agrícolas, agropecuários. Daí termos praticamente apenas indústrias de transformação.
O comércio e a prestação de serviços constituem as atividades principais da economia do município. Mas as cidades da região estão se autonomisando. Seriam muito bem vindas atividades que trouxessem investimentos em áreas novas, em atividades novas.
Existe muita euforia falsa na propaganda governamental que comemora a vinda de capital estrangeiro aos borbotões para o território nacional. Grande parte desse capital é especulativo e vem em busca dos juros estupidamente altos e como tal trazem mais drama do que progresso. Os conhecimentos do livro e a disposição de ânimo do prefeito Valdorimo podem se irmanar em busca de um bom trabalho. Soma-se a isso o trabalho de assessoria do doutor Durval de Noronha Goyos.
Em relação à China, já cometemos historicamente erros suficientes. Há um século intelectuais brasileiros fizeram campanha contra o “perigo” amarelo, se bem que mais se referiam aos japoneses que aos chineses. No governo do marechal Eurico Gaspar Dutra, rompemos relações diplomáticas e sociais com a União Soviética e com a China, para agradar aos EUA e à Inglaterra, que não romperam. No golpe de estado de 1964 a primeira providência foi deter membros de uma delegação comercial da China em visita ao território nacional. Eleito, Mauro Borges, governador de Goiás, foi à China. Tinha faro de estadista. Lá declarou que era favorável a um reatamento. Aproximou-se um representante do Foreign Office, inglês, e lhe disse:
“Governador, o governo da Inglaterra deseja manifestar seu descontentamento pelas suas declarações favoráveis ao reatamento do Brasil com a China”.
Ao que Mauro respondeu: “Muito bem! Então rompam vocês as relações diplomáticas e comerciais com a China”.
A isso o representante inglês respondeu de imediato: “No, this is other business”, (Não, isso é outro negócio).
Hoje a realidade mundial é muito outra. O crescimento chinês foi de 8,6%, acima do que eles mesmo previam.
Para que o mundo saia da crise, ele depende hoje do sucesso da economia chinesa. Para que se tenha uma idéia, é US$ 232 bilhões o déficit comercial dos EUA com a China. Para a saúde econômica do mundo, a China não pode nem parar de comprar nem parar de vender.
A viagem do prefeito Valdomiro e do especialista em direito internacional Noronha Goyos pode significar muitíssimo para o futuro de Rio Preto.
Wilson Romano Calil
Médico, advogado e professor, vive em Rio Preto e escreve toda segunda-feira