O Instituto Português de Heráldica e a Universidade Lusíada de Lisboa reeditaram o Livro de linhagens de Portugal, em 2014, numa edição crítica de António Maria Falcão Pestana de Vasconcelos, com 628 páginas. Como é sabido, Damião de Góis (1502-1574) foi a maior figura laica do humanismo português do Quinhentos, pela vastidão de sua cultura clássica e artística e conhecimento das várias correntes do pensamento europeu. Historiador, filósofo, músico e diplomata, Damião de Góis foi um dos expoentes do humanismo europeu e um precursor do iluminismo.

O Livro de linhagens de Portugal foi concluído no ano de 1555 e, do original, existem diversas cópias em importantes bibliotecas. Os livros de linhagens eram utilizados para registrar a história das principais famílias aristocráticas portuguesas e bem assim assisti-las nos pleitos de nomeação para posições e cargos, junto à Coroa portuguesa.

No Livro de Linhagens de Portugal há entradas detalhadas para cerca de 100 famílias aristocráticas portuguesas, dentre as quais os Braganças, os Noronhas, os Menezes, os Monizes, os Castellos Brancos, os Corte Reais, os Saldanhas e, também, os Goyos.

Segundo Damião de Góis, Lourenço Esteves de Goyos “foi um cavaleiro muito honrado em tempo Del Rey dom João o primeiro, e foi comendador da Vera Cruz muitos tempos…e depois for Prior do Crato…” Como cavaleiro, foi provavelmente uma das 700 lanças (cavalaria pesada) que integraram as forças portuguesas capitaneadas por Dom João primeiro (1366-1433) na batalha de Aljubarrota, na manhã de 14.8.1385, contra os exércitos castelhanos de João primeiro de Castela, que assegurou a independência de Portugal com relação a Castela.

De acordo com o Livro de linhagens de Portugal, Lourenço Esteves de Goyos teve o filho Dom frei Nuno Gonçalvez de Goyos, “também Prior do Grato, em tempo Del Rey Duarte e Del Rey dom Afonso e ouve estes filhos bastardos: Fernão de Goyos, Pedro de Goyos, Estevão de Goyos e Gonçalo de Goyos”.

Ainda segundo Damião de Góis, Estevão de Goyos, filho do Prior Dom Nuno, foi alcaide mor de Mertola e teve os filhos Francisco de Goyos, Pedro de Goyos, Manuel de Goyos, Catarina de Athaide e Felipa de Goyos.

Por aí termina o relato de Damião de Góis, mas têm-se notícias doutras fontes anteriores, contemporâneas e posteriores que Manuel de Goyos tornou-se porteiro mor de El Rei Dom Manuel e, posteriormente, Capitão da Mina, na África. Com exímias qualidades literárias, Manuel de Goyos foi também um poeta quinhentista que escrevia em Português, Castelhano e Galego. Alguns de seus trabalhos foram preservados e se encontram inseridos no Cancioneiro Geral de Garcia de Rezende, obra clássica da literatura quinhentista portuguesa, publicado originalmente em 1516.

São de Manuel de Goyos os seguintes versos:
“Deste mal ando gemendo
E nam posso guarecer,
Nem somente me defendo
nem vos posso defender
de quem me tem em poder.
Em tam desastrada sorte
nam há cura de saber
nem vida que a conforte,
mas viva vosso querer
pera mais cedo morrer[Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, Imprensa Nacional Casa da Moeda, volume II, página 171.].”

São também de Manuel de Goyos os versos abaixo que tratam dos males psico-somáticos por volta do período do descobrimento do Brasil:
“Quem vo-las fez, a verdade,
nam é a ninguém culpado,
pois a voz fez a vontade
e a nós perdei o cuidado.
Este mal vem da cabeça,
e meu conselho seria,
porqu’ao corpo nam deça
que cureis a fantesia[ Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, op cit, página 231.].”

No Cancioneiro, há uma cantiga do próprio Garcia de Rezende dirigida a Manuel de Goyos, quando este era capitão da Mina. As principais cantigas de Manuel de Goyos, ou ao menos aquelas que foram preservadas, encontram-se também publicadas no Cancioneiro, onde podem ser encontrados os seguintes versos:
“trabalhais por me perder,
folgais de me destroir,
nam vos posso mais sofrer,
nem vos quero mais servir[ Idem, volume III, página 236.]”.

O brasão da família Goyos é exposto na Sala dos Veados do Palácio de Sintra, em Sintra, Portugal, e traz as barras de Aragão em prata e ouro ladeadas pelo castelo em pino de Castela, sobrepondo três arminhos, o símbolo heráldico da dignidade. Abaixo o brasão da família Goyos:

goios-208x300

O primeiro membro da família Goyos a se transferir de Portugal para o Brasil no final do século XVIII foi o Sargento Mor José Ferreira Goyos, arrecadador de rendas nas Minas Gerais, em Ouro Fino, agraciado após a Independência com o Hábito da Ordem de Cristo e a Ordem das Rosas por Dom Pedro II. Os laços entre as famílias Noronha e Goyos datam do início do século XIX.