Como a grande maioria dos países em desenvolvimento, a África do Sul padece da crise econômica mundial criada pelos irresponsáveis países desenvolvidos, como os EUA (Estados Unidos da América) e RU (Reino Unido) que, não apenas não coibiram a fraude generalizada nos mercados financeiros, como a encorajaram sob a bandeira do neoliberalismo.
Todavia, como os principais mercados de exportação da África do Sul são exatamente os EUA e a União Européia, as exportações do país caíram cerca de 25%. Por outro lado, o mercado interno (muito dependente de alavancagem) foi afetado pela retração do crédito verificada em todos os países em desenvolvimento, com a crise financeira global, muito embora o setor bancário da África do Sul, como o brasileiro, seja eminentemente saudável.
Num país que ainda luta arduamente para superar o legado devastador do infame regime do apartheid, uma crise econômica como a presente traz uma grande reversão de expectativas da população geral, principalmente quando, dentre seus efeitos, está um aumento massivo das taxas de desemprego. Estima-se que o desemprego já afete 18% da força de trabalho do país. De outubro de 2008 a fevereiro de 2009, houve 226.620 pedidos de seguro desemprego, segundo dados do Departamento do Trabalho.
As estimativas para a produção da indústria automobilística da África do Sul neste ano de 2009 projetam uma queda de cerca de 35% com relação ao ano anterior, que já apresentou uma redução face a 2007, considerando-se que, aqui, a crise fez-se sentir desde outubro de 2008. As projeções macro-econômicas para este ano indicam uma queda do Produto Interno Bruto de aproximadamente 1,5%, o que traz sérias conseqüências sociais.
O governo do país procura combater tais efeitos com um amplo programa de construções civis, incluindo importantes obras de infra-estrutura, como estradas e portos. De mais a mais, as obras relacionadas com a hospedagem da copa do mundo de futebol em 2010, que estão em estado bastante avançado, ajudam a atenuar os problemas decorrentes da queda da atividade econômica.
Dentro deste quadro, uma campanha eleitoral apresentar-se-ia, em tese, dificílima em qualquer país. Na África do Sul, no entanto, os problemas são minimizados pelo papel preponderante do partido ANC (Congresso Nacional Africano), que liderou a luta pela democratização do país e tem a maioria absoluta das cadeiras no parlamento.
Contudo, o partido ANC, hoje liderado por Jacob Zuma, dividiu-se com a derrubada, questionável do ponto de vista jurídico, do presidente Thabo Mbeki. As forças descontentes com os novos rumos tomados pela ANC formaram um novo partido, o Cope (Congresso do Povo). As previsões apontam para mais uma vitória importante da ANC, mas não se sabe se com maioria absoluta.
Por conseguinte, a probabilidade é que o controverso líder, Jacob Zuma, seja eleito o novo presidente da África do Sul. O Sr. Zuma esteve envolvido em disputas judiciais que, não obstante inconclusivas ou absolvitórias, trouxeram nódoas importantes à sua pessoa pública e privada. Não obstante, o Sr. Zuma tem um alto grau de popularidade com as massas do país.
Até o momento, os quadros do partido ANC souberam, no governo, efetuar uma transição para a ordem democrática de uma maneira eficiente e que tem trazido a inclusão social de milhões de membros da maioria da população da África do Sul, de uma maneira exemplar para o continente africano e para o mundo. Espera-se que, com o novo governo, tal herança não seja desperdiçada.
O Brasil tem a África do Sul como um importante aliado nos foros internacionais diversos e na iniciativa IBAS (India, Brasil e África do Sul), considerado um dos mais relevantes blocos políticos do presente momento. Para nós brasileiros, a consolidação da democracia na África do Sul e a prosperidade crescente de seu povo são de grande relevância para a aliança entre os dois países.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).