Pronunciamento do Presidente da União Brasileira de Escritores, Embaixada do Brasil na Itália, Roma, 28 de maio de 2016.
Senhor Embaixador Ricardo Neves, Professor Domenico De Masi, Senhoras e Senhores,
A União Brasileira de Escritores é a mais antiga associação do gênero no Brasil. Fundada em 14 de março de 1942, se posicionou favoravelmente ao ingresso do Brasil na Segunda Guerra Mundial como parte das forças aliadas. A denominação atual da União foi atribuída em 1958.
O Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores, em 1945, foi tanto um marco de grande impacto político e social como decisivo para a redemocratização do país, ocasião em que exigimos o exercício da soberania popular. Na década seguinte, a União assumiu posições contrárias à ditadura militar, pela democratização do Brasil e pela anistia política. Atualmente, a União adota medidas pela defesa da ordem democrática, pelo apoio aos direitos humanos, pela difusão da língua Portuguesa, contra a apologia da tortura, e em favor da conciliação nacional. Várias ações também foram adotadas em favor da cooperação cultural internacional e para a difusão da leitura e da literatura.
A União teve como principais fundadores e inspiradores Mario de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr., Sergio Milliet, Manuel Bandeira, Afonso Arinos, José Luís do Rego, Paulo Mendes de Almeida e Viana Moog. Entre os membros ilustres encontram-se personagens como Jorge Amado, Zélia Gattai, Wilson Martins, Monteiro Lobato, Gilberto Freire, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Florestan Fernandes, Lygia Fagundes Telles, Graciliano Ramos, Erico Verissimo, Menotti del Picchia, João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queiros, Raymundo Faoro e Antonio Candido, entre muitos outros.
A União tornou-se a casa do escritor brasileiro, seja qual for a sua origem regional, racial, sexual ou política. Da União fez parte o ex-presidente Juscelino Kubitschek e fazem parte os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva.
A medalha de Jorge Amado foi criada para homenagear personalidades de destaque na área de intervenção da União. Jorge Amado era, além de um grande humanista, um dos mais ilustres escritores brasileiros de todos os tempos, traduzido em mais de noventa países, em cinquenta línguas diferentes. Seus mais conhecidos romances são Dona Flor e Seus Dois Maridos, Tenda dos Milagres, Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra. Escreveu também Cavaleiro da Esperança, a biografia do líder histórico do Partido Comunista do Brasil. Com apenas 18 anos, escreveu O País do Carnaval, queimado nas ruas por agentes da ditadura pró-fascista brasileira.
Como deputado do Partido Comunista, Jorge Amado foi responsável pela criação do Dia do Escritor, que no Brasil é comemorado em 25 de julho.
Em 1994, Jorge Amado recebeu o Prêmio Camões, a maior distinção para escritores de língua portuguesa e recebe a maior honra que pode receber um autor no imaginário e na consciência nacional de seu povo. Jorge Amado foi casado com Zélia Gattai, também uma escritora de grande talento.
A União decidiu conceder a medalha de Jorge Amado ao Professor Domenico de Masi, um dos principais sociólogos e filósofos da atualidade, e que é também um grande amigo do Brasil e do povo brasileiro. Em seu ensaio Mapa Mundi_ Modelos de vida para uma sociedade sem orientação, o Professor de Masi usou o Brasil como um dos quinze modelos sociológicos mais representativos da sociedade, juntamente com o clássico, o renascentista, o chinês, o hindu, o europeu, o americano, etc.
Segundo o Professor De Masi, em seu ensaio Tag as palavras do tempo, a especificidade brasileira e a virtude da tolerância, que surge entre nós pela mistura ética e pelo sincretismo cultural, garantem uma baixa taxa de racismo e promovem a sociabilidade, a amizade, a hospitalidade, a propensão para absorver as contribuições externas. Estes atributos nos permitem enfrentar a realidade com um sentimento positivo, se mover com desenvoltura entre os diferentes códigos de conduta, para reinterpretar as regras e línguas, e considerar fluidas as fronteiras entre o sagrado e o profano, entre formais e informais, entre público e privado, entre emocional e racional.
No entanto, o Professor De Masi, em seu ensaio 2025 Como Evoluirá a Cultura Brasileira, não deixa de observar as nossas falhas e os vários desafios, como a corrupção, a violência, a desigualdade, a burocracia e os déficits educacionais, mas também observa que, nos piores momentos, os brasileiros enfrentam a realidade com um sentimento positivo. É exatamente o que está acontecendo hoje na crise econômica, no ambiente político e social no qual estamos imersos, nosso povo descobre os limites entre a tolerância e permissividade criminal.
O grande poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, fundador da União, para explicar o movimento de criação artística modernista nacional, escreveu certa vez Arcos, Museus, Catedrais, o Brasil tem apenas canibais.
Professor Domenico De Masi, bem-vindo ao grupo de canibais. Tenho grande prazer em entregar a medalha de Jorge Amado da União Brasileira de Escritores.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).