Londres – O Banco Mundial anunciou, no dia 22 de junho de 2009, que os países em desenvolvimento sofrerão uma queda de US$ 1 trilhão nos fluxos financeiros de capitais privados, com relação ao volume havido em 2007. Em 2008, computou-se uma queda de aproximadamente US$ 500 bilhões. Como o valor total do PIB (Produto Interno Bruto) mundial é cerca de US$ 60 trilhões, a perda a ser sofrida pelos países em desenvolvimento é dramática.
A situação descrita ficará ainda pior se forem excluídos os fluxos para Brasil, Índia e China, que continuarão a receber aportes expressivos de capital, devido ao dinamismo de suas economias. Isso significa que a recessão continuará a atormentar os países em desenvolvimento durante, pelo menos, até o final deste ano e, possivelmente, também em 2010.
Excluídas as economias da China e da Índia, aquelas dos demais países em desenvolvimento, segundo o Banco Mundial, deverão retrair em aproximadamente 1,6%. À guisa de comparação, a economia internacional como um todo deverá se reduzir em 2.9% do PIB mundial, enquanto o comércio global deverá cair em 10%.
A complicar a situação dos países mais pobres, dependentes de ajuda internacional, está a redução dos volumes de ajuda financeira dada pelos países desenvolvidos, já insuficiente nos patamares de normalidade. Os países do G-8, por exemplo, têm sido criticados por faltarem a suas promessas de apoio financeiro aos países menos desenvolvidos.
De fato, a situação interna de quase todos os países do chamado G-8 encontra-se dificilíssima, para dizer o menos. No Reino Unido, a participação do Estado no PIB aproxima-se a 50%, o que descaracteriza o país como economia de mercado. Para um melhor idéia, observe-se que a participação do Estado na economia chinesa é hoje inferior a 30%.
Por sua vez, na Itália, haverá uma enorme redução da economia, em cerca de 5%, face ao ano anterior. Igualmente, França e Alemanha têm grandes dificuldades e, por último, os EUA (Estados Unidos da América) encontram-se tecnicamente quebrados, com um déficit orçamentário de aproximadamente 10% do PIB.
Fazendo eco ao seu controlador de fato, os EUA, o Banco Mundial também propugnou por maior cooperação e coordenação na formulação de regras mais rígidas para os mercados financeiros, bem como um controle internacional das respectivas operações, medidas de resto necessárias. Nesse sentido, já há algumas propostas apresentadas pelos EUA e pela União Européia, mas nada de concreto da parte dos países em desenvolvimento.
Felizmente, a situação econômica brasileira apresenta-se comparativamente bem, embora tenha sofrido desnecessariamente os efeitos de uma situação criada principalmente pela incompetência do governo em avaliar a conjuntura internacional, há cerca de 9 meses atrás, e assim permitir uma artificial crise doméstica de confiança e liquidez.
Contudo, os estudos sob comento do Banco Mundial indicam que o setor do comércio exterior do Brasil continuará com dificuldades nas suas vendas internacionais, devido à retração do comércio internacional. À isso, some-se a renovação do protecionismo mundial e a perda de competitividade doméstica devido à supervalorização do Real.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).