Por Paulo Miguel Madeira
A economia do maior país lusófono deve retomar um crescimento robusto em 2010 e prepara-se para uma fase sustentada de crescimento
Na ressaca da crise financeira internacional, que na Europa deu origem à maior recessão desde a Segunda Guerra Mundial, todas as opiniões vindas a público apontam para que a recuperação da economia será lenta. Isto é, quando se voltar ao crescimento, será a um ritmo lento, que assim se deverá manter por um período prolongado.
Esta análise é feita tanto por organizações internacionais como por reputados economistas, incluindo vários prémios Nobel. Mas isto é verdade sobretudo para as grandes economias desenvolvidas, EUA, Europa e Japão. Noutras áreas, como a China (para onde o FMI está a projectar um crescimento de 8,5 por cento este ano e de 9 em 2010), a Índia (com 5,4 e 6,4 por cento) ou o Brasil (-0,7 e 3,5), não será assim. Nas principais potências em desenvolvimento, a economia caiu muito menos do que no Ocidente e Japão e as perspectivas são de um futuro imediato com maior dinamismo.
Para as empresas portuguesas, o Brasil torna-se assim um destino mais forte para quem procura oportunidades de investimento, conforme realçou ao PÚBLICO o advogado Durval de Noronha Goyos, especialista em comércio internacional e que dirige um escritório com sede em São Paulo e filiais em cinco países, incluindo Portugal e a China.
Para os grupos portugueses, Durval de Noronha vê grandes oportunidades na área dos serviços, "porque vão ter muito investimento público". Realça o "défice" do país em infra-estruturas, "que está hoje em condições de superar" devido à saúde das suas contas públicas – e dá como exemplos os sectores da habitação, saneamento público, energia e agronegócio.
O Brasil tem as contas públicas "em linha com os critérios de Maastricht, o que dá margem para investir", enfatiza, lembrando que o seu défice público este ano é inferior ao alemão. "Há produtos agrícolas com preços em alta mesmo na crise e o Brasil fabrica mais de três milhões de veículos/ano com motores que dão para gasolina e etanol", reforça.
Durval Noronha refere também as oportunidades ligadas às descobertas de petróleo na camada de pré-sal da crosta, ao largo da costa sul do Brasil, bem como os jogos olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016. "O país tem já 50 por cento de energia eléctrica renovável e as reservas de petróleo ficam entre as maiores do mundo", enfatiza.
Para justificar a ideia de que nos próximos anos o seu país vai continuar a ter uma fase de crescimento sustentado, este advogado, que é árbitro da OMC (Organização Mundial do Comércio), lembra que os grandes países em desenvolvimento já tinham passado a trocar mais entre si do que com o mundo desenvolvido, e que isso os "preservou" na crise que estamos a viver.
O bom desempenho do Brasil – é, "entre os grandes países em desenvolvimento, o que recebe maior investimento per capita – pode assim ser uma oportunidade para Portugal "mitigar a crise", porque se tornou uma economia de serviços, que tem oportunidades nos países lusófonos".
Comércio em queda
O comércio internacional este ano deverá sofrer uma derrocada de 18 por cento, segundo um relatório recente da OCDE, mas nos países em desenvolvimento deverá cair "muito menos", diz Durval Noronha, acrescentando que estes "são agora o motor da economia" mundial. Os países em desenvolvimento têm "um sistema financeiro mais saudável e uma economia mais saudável", afirma, referindo-se sobretudo ao Brasil e à China.
Isto porque a crise internacional que se iniciou há pouco mais de um ano "concentra-se mais nos países dependentes do artificialismo dos mercados financeiros, como os Estados Unidos, Reino Unido e alguns outros europeus". Nos países em desenvolvimento, "os mercados financeiros não estavam tão dependentes dos derivados financeiros", que vê como o grande risco desta crise.
A crise foi particularmente grave para os EUA e "não se vislumbra a iminência de uma recuperação. Estão a emitir moeda, o que é desastroso a médio e longo prazo, e vão ter de contrair empréstimos noutras moedas [que não o dólar], o que é duro devido à perspectiva de desvalorização sistémica do dólar".

http://jornal.publico.clix.pt/noticia/02-11-2009/brasil-tornouse-mais-interessante-para-o-investimento-apos-a-crise-18127262.htm