Proferida no Auditório do Centro Cultural Dr. Daisaku Ikeda, São Paulo, 16 de março de 2019.
Excelentíssimo Sr. Júlio China, digno presidente em exercício da Associação Brasil SGI e representante, nesta solenidade, de nosso ilustre homenageado, o escritor humanista, Dr. Daisaku Ikeda. Ilustres componentes dos quadros diretores da Associação Brasil SGI,
Minhas senhoras e meus senhores,
Caros Amigos,
A União Brasileira de Escritores – UBE é a mais antiga e representativa entidade da classe existente no Brasil. Foi ela fundada há mais de 60 anos por nomes como Mário de Andrade, Caio Prado Júnior, Jorge Amado, Zélia Gattai, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, Lygia Fagundes Telles, António Candido, Menotti del Picchia, Sergio Buarque de Holanda, Afonso Arinos, José Lins do Rego, Rachel de Queirós, Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, Carlos Lacerda, Patrícia Rehder Galvão, a Pagú, e Oswald de Andrade, dentre outros.
Anualmente, a UBE outorga o prestigioso Prêmio Juca Pato, honrando o intelectual do ano, que já agraciou a San Tiago Dantas, Dom Paulo Evaristo Arns, Sábato Magaldi, Luiz Alberto Monis Bandeira, Samuel Pinheiro Guimarães, Fernando Henrique Cardoso, Renata Palottini, Bresser Pereira, Raquel de Queirós, Juscelino Kubitschek de Oliveira, Antônio Calado, Luís da Câmara Cascudo, Milton Hatoum e Jorge Amado, dentre dezenas de personagens altamente representativos do que há de melhor na cultura brasileira e lusófona.
A mais importante comenda da UBE é a Medalha Jorge Amado que homenageia o grande escritor brasileiro e lusófono que, além de produzir uma literatura de primeiríssimo nível, enaltecia a cultura popular brasileira e os valores maiores de nossa civilização, como o humanismo e a tolerância, também inseria também a voz do povo, através de seu modo de falar, nas letras brasileiras. Como vice-presidente da UBE, Jorge Amado foi um dos líderes da redemocratização do Brasil em 1945/1946, que se seguiu ao primeiro congresso de escritores. Casou-se com Zélia Gattai, também notável escritora e igualmente fundadora da UBE.
Quando deputado à assembleia constituinte de 1946, Jorge Amado apresentou quinze ementas ao projeto de Constituição, incluindo a que garantiria liberdade religiosa no país; a de facilitação do habeas corpus; a que acabava com a necessidade de censura prévia para a publicação de livros e periódicos; e a que eliminava o requisito de nascimento no Brasil para o exercício de profissões liberais. Em 1970, opôs-se corajosamente contra a implantação da censura prévia no Brasil, pelo regime ditatorial militar, conclamando toda a classe dos escritores a segui-lo.
Jorge Amado foi ainda, enquanto deputado, o responsável pela criação do Dia do Escritor no Brasil. Escreveu 38 obras diversas, sendo as mais conhecidas O País do Carnaval ; Mar Morto; Capitães da Areia ; O Cavaleiro da Esperança; São Jorge dos Ilhéus; Bahia de Todos os Santos; Gabriela, Cravo e Canela ; Dona Flor e seus Dois Maridos; Tenda dos Milagres; Tereza Batista Cansada de Guerra ; e Tieta do Agreste. Estas obras foram traduzidas em 80 países em 49 idiomas diversos, o que faz com que Jorge Amado seja o autor brasileiro mais vertido em línguas estrangeiras. Em reconhecimento à excelência de seu trabalho literário, Jorge Amado foi agraciado com o premio Juca Pato da União Brasileira de Escritores; o prêmio Camões, de Portugal e da comunidade lusófona; o prêmio Etruria, da Itália; a Medalha de Vermeil, da França; e o prêmio Lenin, da então União das Republicas Socialistas Soviéticas, dentre outras honrarias.
A Medalha Jorge Amado da UBE foi até hoje outorgada a apenas cinco personalidades:
1. Em Lisboa, Portugal, a Dom Duarte Pio, o Duque de Bragança, por seu incansável trabalho em prol do desenvolvimento e da afirmação da língua portuguesa;
2. Em Roma, República Italiana, ao sociólogo molisano, Domenico de Masi, por seus estudos e trabalhos de divulgação internacional da cultura brasileira;
3. Em São Paulo, Brasil, ao crítico literário mineiro, escritor Fábio Lucas, em reconhecimento ao seu extraordinário trabalho de análise da literatura brasileira;
4. Em São Paulo, Brasil, ao advogado piauiense, Ronald de Freitas, por sua história de afirmação da ética na política brasileira; e
5. Em Buenos Aires, Argentina, postumamente ao grande humanista argentino, Jaime César Lipovetzky, por seu notável trabalho em prol da consolidação e expansão do Mercosul.
Pois bem, em outubro de 2018, em São Paulo, a diretoria da UBE deliberou por unanimidade outorgar a Medalha Jorge Amado ao escritor, Dr. Daisaku Ikeda, grande humanista, mestre e expoente budista. O Dr. Ikeda, que fundou, em 1975 a sociedade Soka Gakkai International (SGI), tornou-se sócio honorário da UBE no dia 17 de junho de 2015. O Dr. Daisaku Ikeda tornou-se um apóstolo da tolerância, desenvolvendo uma intensa atividade internacional em prol do humanismo. Para tanto, ele defende a reforma social por meio da educação e da observância da moral e dos valores humanísticos básicos. A Sokka Gakkai International encontra-se presente hoje em cerca de 190 países, inclusive no Brasil, e tem mais de 15 milhões de associados praticantes.
O Dr. Ikeda nos ensina que “civilizações diferentes têm cultivado diversos tipos de sabedoria. Agora é hora de reunir os saberes em prol da resolução de problemas enfrentados no mundo inteiro. A única maneira de fazer isso é criar relações de solidariedade ampla transcendendo as diferenças étnicas, religiosas e ideológicas ”. Isso se obtém “criando m modo de vida que supere as obsessões com as diferenças e que tenha como objetivo a promoção da paz e da felicidade da sociedade como um todo .”
Em sua proposta de paz de 2014, o Dr. Daisaku Ikeda conclamou por uma revolução humana, cuja “essência está no empoderamento, que permite a cada indivíduo manifestar ilimitadas capacidades. É um processo de criação de valor que culmina na transformação da própria sociedade .” Mais ainda, o Dr. Ikena lembra que as ações empreendidas “para iluminar a dignidade dos outros, inevitavelmente, geram a luz que revela os nossos valores mais elevados ”. De fato, como bem afirmou o grande escritor brasileiro, Machado de Assis, “o bem não alcançado é como o bem perdido, pouco a pouco se esvai na mente e coração”.
Por sua vez, em 26 de janeiro de 2018, o Dr. Ikeda publicou sua proposta de paz anual intitulada “ Rumo a uma Era de Direitos Humanos. A construção de um Movimento Popular.” A temática principal desta sua nova proposta é a de que uma abordagem centrada nos direitos humanos é fundamental para resolver questões globais, inclusive a ameaça nuclear. Escrevendo no ano que marcou o 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Dr. Ikeda ressaltou “a necessidade de tornar a vida e a dignidade de cada pessoa nosso ponto central: o fato de que a vida de cada ser humano é preciosa e insubstituível. ”
O Dr. Daisaku Ikeda é também um escritor profícuo: é autor de 105 obras publicadas em diversas línguas, das quais 82 reproduzindo os seus diálogos com personalidades mundiais importantes de diversas nacionalidades, formações e crenças, com o intuito de promover o conhecimento, a tolerância e o respeito. Dentre os seus parceiros dos diálogos contam-se Arnold Toynbee; André Malraux; Makoto Nemoto; Henry Kissinger; Linus Pauling; Austragésio de Athayde; Mikhail Gorbachev; John Kenneth Galbraith; e Adolfo Perez Esquivel. Ele ainda escreveu 3 livros de história do Budismo; 3 sobre filosofia; 3 romances; 3 obras de poesias; 4 livros de ensaios; 1 tratado sobre educação; e ainda 7 obras de literatura infanto-juvenil.
A União Brasileira de Escritores (UBE) tem igualmente uma larga tradição de promoção dos valores ligados ao Humanismo e houve por bem conferir sua mais alta honraria àquele que os sabe representar, defender e disseminar por todo o mundo. Assim, na qualidade de presidente da UBE, tenho a enorme honra em conferir ao escritor, Dr. Daisaku Ikeda, na pessoa de seu representante, Sr. Júlio China, a Medalha Jorge Amado, da União Brasileira de Escritores, como reconhecimento, admiração e gratidão, ao seu notável trabalho de toda uma vida, por parte do escritor do Brasil.
Senhoras e Senhores, muito obrigado.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).