A China já é o 8º parceiro comercial do Estado e desbancou os EUA, na liderança nacional por 80 anos
O Brasil está realmente inserido na dinâmica da nova ordem econômica mundial, que se desenha desde setembro de 2008 —, com o acirramento da crise financeira — e vem colocando a República Popular da China na posição de maior potência econômica do planeta. No âmbito das trocas comerciais, essa inserção pode ser constatada por uma alteração histórica: em março último, a China ultrapassou os Estados Unidos e é hoje o maior comprador de produtos brasileiros.
O resultado da balança comercial de abril confirma a nova posição chinesa e evidencia a quebra de 80 anos de liderança norte-americana na parceria comercial com o País. Em abril, as exportações para a China somaram US$ 2,231 bilhões, alta de 76,4% sobre igual mês de 2008, e as importações, US$ 1,0 bilhão, totalizando uma corrente de comércio de US$ 3,2 bilhões. Já os EUA compraram do Brasil US$ 1,340 bilhão e venderam US$ 1,477 bilhão, somando US$ 2,8 bilhões.
Para o Ceará, o aquecimento das relações sino-brasileiras representa uma janela de oportunidades comerciais nunca dantes vislumbradas. As exportações locais para o país de Mao Tse Tung somaram US$ 9,031 milhões, no primeiro quadrimeste ano, praticamente estáveis em relação a igual intervalo de 2008. A cifra coloca a China como oitavo principal parceiro do Estado, com participação de 2,7% dos US$ 340,6 milhões vendidos no exterior.
O fechamento da balança comercial cearense, em 2008, mostra que a China ocupou a 9ª posição no ranking dos países compradores de produtos locais, com US$ 24 milhões. A participação ainda é incipiente: 1,9% das vendas externas do Estado. Porém, analisando a série histórica, observa-se que, em 1999, a República comunista sequer figurava na lista dos dez principais parceiros locais. Era o 49º, com US$ 179 mil, dos US$ 576 milhões comercializados naquele ano.
Os números, de um estudo do Centro Internacional de Negócios (CIN), da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), mostram que, em quase uma década, a China ganhou 40 posições no ranking de compradores externos do Estado. Em termos financeiros, as vendas àquele país evoluíram 1.300% no período. Couros e peles, complementos alimentares, granito e castanha de caju são os principais itens fornecidos pelo Estado àquele mercado.
Para o advogado Durval de Noronha Goyos Júnior, uma das maiores autoridades mundiais em Direito Internacional, o crescimento da pauta comercial sino-brasileira pegou de surpresa o governo do Brasil e amplos setores empresariais do País, “que têm um desconhecimento enciclopédico sobre a China, alimentado, naturalmente, pelo preconceito”.
Segundo Noronha, o Ministério das Relações Exteriores tem mantido, desde 1974, “apenas uma meia dúzia de diplomatas no país oriental, sem conhecimento da língua chinesa e sem especialistas à altura dos desafios na área comercial, nas mesmas precárias instalações da época da Revolução Cultural”. “O posto na China não atrai os diplomatas brasileiros por deixar de ser chique, o que contraria o ethos do Itamaraty”, afirma.
SAMIRA DE CASTRO
Repórter