São Paulo – Ao mesmo tempo em que um dos maiores bancos mundiais oferecia aos seus clientes a abertura de contas correntes em Yuan, a moeda da República Popular da China (China), na praça de Londres, Reino Unido, o Ministério das Finanças do país oriental emitia, no dia 17 de agosto de 2011, títulos denominados nesta moeda, na praça de Hong Kong.
A emissão dos bônus, denominados dim sum, como o saboroso prato da famosa cozinha cantonesa, foi feita no expressivo valor de 20 bilhões de Yuan, o equivalente a 5 bilhões de Reais, e resultou imediata e totalmente comprada por investidores estrangeiros em Hong Kong, apesar da baixa taxa de juros de apenas 0.6% ao ano.
Algumas outras emissões de papéis denominados em Renmimbi, o dinheiro do povo, em número aproximado de 80, foram feitas desde 2007, porém sempre em valores limitados, por emitentes prestigiosos, que incluem o Banco Mundial, além de grandes empresas multinacionais com operações na China.
De acordo com as autoridades monetárias chinesas, as referidas emissões deverão continuar no futuro próximo, o que é fortemente indicativo, aos observadores mais atentos, da intenção chinesa de promoção gradual da circulação internacional da moeda do país.
Hoje, empresas chinesas estão autorizadas a fazer pagamentos internacionais em Yuan, da mesma forma que adquirir empresas nesta moeda. O escritório de advocacia do qual sou sócio aceita pagamentos dos seus clientes chineses em Renminbi, tanto na China como na praça londrina. Recursos auferidos em Yuan no exterior podem retornar à China.
Como as emissões de títulos denominados em Yuan dependem de aprovação prévia das autoridades monetárias chinesas, o governo chinês tem um controle eficaz a respeito do ritmo da expansão do referido mercado. Tal controle torna-se necessário porque uma procura desmesurada pela moeda chinesa levará inevitavelmente à sua valorização exacerbada, com os efeitos macroeconômicos negativos que observamos no Brasil.
Com a derrocada do dólar como moeda reserva e os prognósticos pouco favoráveis a respeito de seu futuro, é de se prever que as emissões de bônus dim sum feitas pelo governo chinês, ou por tomadores com crédito reconhecido, tenham ampla e imediata aceitação dos mercados financeiros internacionais.
As debilidades estruturais do Euro ajudam a reforçar a tendência favorável à compra de títulos denominados em Yuan, assim como a inexistência de outras opções confiáveis disponíveis em grande escala e a preços aceitáveis nos mercados internacionais.
De qualquer maneira, não se pode esperar realisticamente que o Yuan venha a substituir o dólar como moeda reserva no futuro próximo, em função de inúmeros e complexos fatores. As próprias autoridades chinesas vêm exortando, já há algum tempo, a comunidade internacional à criação de uma moeda multilateral que possa exercer tal função.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).