Zurique – A presente crise institucional que afeta diversos países árabes e ameaça outros, muitos dos quais produtores de petróleo, levou o preço do tipo Brent para o patamar de US$ 116 nos mercados londrinos, na última sexta-feira, dia 4 de março de2011. É certo que o movimento altista refletiu diretamente os distúrbios civis na Líbia, hoje o nono maior produtor de petróleo no mundo.
Acresce que os temores a respeito de desestabilização na Arábia Saudita, o maior produtor mundial de petróleo e o único país com um potencial expressivo de produção adicional imediata, também teve um peso considerável.
De uma maneira geral, o histórico dos choques do petróleo reflete crises políticas institucionais. Assim, o primeiro choque ocorreu em 1973 por ocasião da guerra do Yom Kippur envolvendo alguns Estados árabes e Israel. O boicote solidário de alguns países produtores elevou expressivamente o preço do petróleo, em cerca de 300%.
O segundo choque ocorreu em 1979, por ocasião da revolução xiita na Pérsia, que derrubou o governo do Xa. Na ocasião, a produção do país, o segundo maior produtor mundial, foi descontinuada, o que repercutiu na expressiva elevação dos preços do petróleo, em cerca de 150%.
O terceiro choque foi mais recente, ocorrido em 2008, concomitantemente a crise financeira mundial, e não foi repercussão direta de nenhum evento politico particular, mas ao contrário foi um efeito da lei da oferta e da procura resultante do aumento do consumo nos grandes países em desenvolvimento. Notadamente na China, mas também na Índia e no Brasil. O valor aumentou na ocasião aproximadamente 90%.
De fato, para fazer frente a suas políticas de grande expansão econômica e desenvolvimento social, esses países necessitam de enormes quantidades de petróleo, o que repercute diretamente na majoração dos preços. Dessa maneira, a presente instabilidade política em alguns países produtores somente agravou uma situação já muito problemática.
Com toda certeza, a economia mundial chegou a um ponto em que a produção de petróleo atingiu o limite das necessidades do consumo internacional, o que irá repercutir cada vez mais nos preços da mercadoria, com consequências trágicas para os países menos desenvolvidos não produtores, mas igualmente muito difíceis até mesmo para muitos Estados ricos.
A volatilitade dos preços do petróleo tornou-se uma realidade durável. O choque do petróleo tornou-se permanente e até mesmo conflitos militares de grandes proporções poderão resultar da situação. É melhor o Brasil estar preparado para essa preocupante situação global.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).