São Paulo – O presidente do Banco Central da República Popular da China, Zhou Xiaochuan, num ensaio publicado em Beijing no dia 23 de março de 2009, repudiou o uso continuado do dólar norte-americano como moeda de reserva, clamou por sua substituição por valores que atendam a certos critérios fundamentais de segurança e liquidez, dentro do contexto de reforma dos organismos internacionais que, ao eliminar o injustificado protagonismo dos países desenvolvidos, dê maior poder aos estados em desenvolvimento.
O dólar americano, segundo dados recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), ainda hoje responde por cerca de 60% das reservas monetárias mundiais, enquanto que 27% estão investidos em Euros e, aproximadamente, 11% noutras moedas como o Yen, o franco suíço e a libra esterlina.
O crescente aviltamento da moeda americana, mais pronunciado a partir da segunda metade de 2008, permitia-se procrastinar com relativa segurança o seu ocaso como moeda de reserva. Hoje, a situação da moeda americana deteriorou-se de maneira substancial e se pode prever com segurança a continuidade da derrocada.
De fato, os Estados Unidos da América (EUA) já comprometeram mais da metade de seu PIB em medidas de sustentação ao seu setor financeiro falido pela orgia sem precedentes dos mercados dos derivativos ou em subsídios ilegais para sustentar a competitividade internacional de sua indústria.
Com o recente anúncio, dias atrás, de emissões sem lastro do banco central americano, o Federal Reserve Bank, o nervosismo mundial acentuou-se a respeito da moeda americana, que teve forte queda nos mercados mundiais em face de outras moedas. Por sua vez, os chineses, que detém cerca de US$ 2 trilhões em reservas aplicadas em títulos do tesouro dos EUA, têm demonstrado irrequietude e desassossego com a fragilidade monetária daquele país.
Daí, o pronunciamento desta semana de Zhou Xiaochuan, um brado de bom senso no meio do caos, ao reafirmar os requisitos essenciais de uma moeda de reserva. Em primeiro lugar, lembrou o presidente do Banco Central chinês, a moeda reserva deve ser estável e ancorada num sistema confiável de oferta.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).