“La Historia es nuestra y la hacen los pueblos.”
Pres. Salvador Allende, 11 de setembro de 1973

São Paulo – Exatamente na data do 35º aniversário do golpe de Estado havido no Chile, que derrubou o governo constitucional e democrático, foi lançada, simultaneamente em São Paulo e em Santiago, a obra “Fórmula para o caos – A derrubada de Salvador Allende”, de autoria do grande historiador brasileiro Luiz Alberto Moniz Bandeira, dentre nós pela Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, com 640 páginas e prefácio do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.

Moniz Bandeira, como é sabido, é o maior historiador brasileiro de todos os tempos e tem dedicado toda uma vida a construir uma obra extraordinária que se caracteriza, em primeiro lugar, por abranger trabalhos que vão além da história do Brasil. Por exemplo, sua obra “A Formação do Império Americano”, pela mesma editora, já publicada também na Argentina, é o principal estudo feito sobre o tema. Por outro lado, Moniz Bandeira situa suas lúcidas análises numa perspectiva global tanto do ponto de vista ideológico quanto estratégico.

Esse é o caso de “Fórmula para o caos”, para o qual trabalho o Autor consultou, pela primeira vez, os arquivos secretos do Itamaraty e também os do Departamento de Estado dos EUA, recentemente abertos, situando os tristes eventos do Chile no contexto da chamada Guerra Fria e do embate político, econômico e militar do mundo bi-polar dos EUA e da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

Assim, Moniz Bandeira demonstra como, a partir da recusa dos EUA em aceitar um regime socialista no Chile, ainda que eleito democraticamente por seu povo, a superpotência passou a levar a efeito um brutal plano de desestabilização do país sul-americano consistente em operações encobertas, operações de engodo e na chamada propaganda negra.

De fato, o presidente Richard Nixon dos EUA havia sentenciado que “an Allende regime in Chile was not acceptable to the United States” (página 167), e seu secretário de Estado, Henry Kissinger havia complementado, numa pergunta retórica: “why we have to let a country go marxist just because its people are irresponsible” ( páginas 158 e 161”.

O autor situa o perfil das ações de desestabilização dentro de um paradigma dos órgãos de inteligência dos EUA, já utilizadas noutros países, inclusive no Brasil, no golpe de estado militar havido no dia 1 de abril de 1964, como no caso do financiamento de manifestações de protesto havidas com a chamada marcha da família, em São Paulo. Mais ainda, Moniz Bandeira demonstra a eficácia brutal dessas ações no Chile, que cumpriram à risca a determinação de Richard Nixon à CIA de fazer “a economia gritar de dor” (página 29).

Assim, quase às vésperas do golpe, no início de setembro de 1973, o embaixador brasileiro, Câmara Canto, telegrafou ao Itamaraty informando que o Chile chegava ao fim de semana “sufocado por um conjunto alarmante de greves: transportadores, taxistas, motoristas de ônibus, médicos, dentistas, farmacêuticos, enfermeiras e gremialistas” (página 521) num grave quadro de desabastecimento.

Moniz Bandeira analisa a participação ativa do governo militar do Brasil e de seus agentes diplomáticos no apoio ao golpe de estado chileno e cita a declaração do então chanceler Mario Gibson Barbosa, Ministro das Relações Exteriores do General Garrastazu Médici, no sentido de que “era conforme os nossos interesses o que vinha de ocorrer no Chile…” (página 559).

Após seu profundo exame, o autor conclui que “não havia no Chile condições objetivas, materiais, tanto internas quanto externas, para qualquer experiência de estatização, completa ou parcial, da economia, como existente na URSS e em Cuba, ainda que por via pacífica” (página 587).

“Fórmula do Caos” é uma obra magistral, e tipicamente bem documentada num extraordinário trabalho de pesquisa, que interessa não apenas os estudiosos da história do Chile e da América Latina, mas também a todos aqueles que se preocupam com os métodos, hoje aprimorados, de desestabilização da ordem jurídica internacional levados a efeito pelos EUA.