Londres – Imediatamente após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, tropas dos EUA (Estados Unidos da América) invadiram o Afeganistão, instalando, em 2002, um governo fantoche liderado por Hamid Karzai.
Os objetivos estratégicos dos EUA eram, num primeiro plano, o de instalar no meio do caos prevalente naquele país uma presença de suas forças armadas em preparo à invasão do Iraque; e numa segunda motivação, manter uma pressão militar contra o Iran na sua fronteira leste.
Subsequentemente, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar ofensiva e defensiva composta de estados clientes dos EUA, passou a apoiar militarmente a operação de ocupação do Afeganistão, disponibilizando tropas de mais de 30 países. Os EUA procuraram dividir o ônus político e financeiro da ocupação, coisa que habitualmente têm feito em ocasiões assemelhadas.
Como era de se esperar face ao histórico do país, houve uma imediata reação militar de forças afgãs, ligadas ou não ao movimento dos Talibans, da mesma forma que já se verificara quando da ocupação soviética, na década de 80.
Apesar do crescente número de tropas de ocupação, que hoje se situa na casa dos 60 mil combatentes, o controle territorial do Afeganistão pela Otan é decrescente e altamente precário. Hoje, apenas a região próxima à capital, Kabul, sob virtual sítio, pode ser entendida como controlada pela aliança ocidental.
Recentemente, um comboio francês foi emboscado a cerca de 50 quilômetros de Kabul, a capital, com importantes baixas, o que levou a uma grande comoção nacional em França, onde 55% da população são contrários à aventura militar. Não obstante, o presidente Sarkozy reafirmou o compromisso militar assumido.
Para além da insustentável situação militar e política, que traz o efeito indesejado de apenas fortalecer o que se combate, um desastre humanitário se desenha no Afeganistão. Para uma população de cerca de 23 milhões de pessoas, há aproximadamente 5 milhões de refugiados, ou cerca de 20%. Muitos desses têm um tratamento degradante e bárbaro nas mãos de potências beligerantes como o Reino Unido.
Mais de 70 mil artefatos explosivos denominados bombas cluster acham-se dispersas pelo país, da mesma forma que enormes quantidades de minas, o que coloca em risco a integridade física da população civil. O bombardeio de civis é corriqueiro. Mais de 60% das crianças estão abaixo do peso para as respectivas faixas etárias. A assistência médico-hospitalar está em colapso.
A fome é um grande problema social. A economia do Afeganistão passou a depender mais e mais do cultivo e processamento do ópio. Impera a corrupção no governo. O crime organizado está institucionalizado. Nessa situação, o recrutamento do Taliban é vigoroso e sua influência regional tende a aumentar, ao invés de diminuir.
A invasão do Afeganistão, assim, demonstra-se contraproducente e um grave atentado aos direitos humanos do povo daquele país.
Quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).