Realizou-se no fim de semana de 26 e 27 de junho de 2010, em Toronto, no Canadá, a reunião de cúpula do G-20, o grupo das principais 20 economias industrializadas do mundo, com o objetivo de tratar das medidas destinadas a corrigir os desajustes, distorções e efeitos nefastos causados pelas ações de combate à crise econômica e financeira adotadas pelos diversos países, com maior ou menor intensidade.
Tais medidas compreenderam, de uma maneira geral, o comprometimento de recursos públicos destinados a salvar os mercados financeiros dos países mais afetados pela barbárie na ação privada, cumulada com a anomia institucional nos EUA (Estados Unidos da América) e RU (Reino Unido), países já com pesados déficits públicos, que se tornaram insustentáveis.
De fato, de conformidade com dados do FMI (Fundo Monetário Internacional), válidos para os países do G-7, agrupamento de maior descontrole fiscal, o déficit líquido das dívidas governamentais com relação ao PIB (Produto Interno Bruto) será de 120% em 2012. Se forem acrescidas as dívidas financeiras, não-financeiras não governamentais e aquelas particulares, o déficit subirá para cerca de 400% do PIB daquele grupo de países.
Por sua vez, o déficit governamental face ao PIB dos chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) é de menos de 50% do PIB, sendo maior no Brasil e na Índia e menor na China e na Rússia. Somados os todos os outros setores mencionados no parágrafo anterior, o déficit é de aproximadamente 110%.
Assim, enquanto a situação econômica de alguns países, dentre os quais os BRICs, é confortável, estável e próspera, noutros, incluindo os EUA e o RU, é de desesperança. Alguns outros países europeus também se encontram em difícil situação, dentre os quais a Itália, Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, embora não tão grave como a do RU.
Nesse contexto, tornou-se difícil, senão impossível, um consenso de como eliminar os grandes déficits dos países arruinados sem que o esforço traga uma grande recessão e um forte impacto social, num quadro de miséria generalizada. De fato, os BRICs já reverteram seu quadro de medidas de apoio financeiro aos patamares de pré-crise. Mais ainda, o jogo dos interesses nacionais das grandes potências demanda que outros países tenham condições de comprar seus produtos, o que implica na manutenção das medidas de ajuste. Faça o que eu digo e não o que eu faço, dizem os EUA com o costumeiro cinismo.
Foi então atingido um compromisso, que certamente será descumprido pelos EUA, de ao menos cortar pela metade os déficits fiscais até 2013 e de estabilizar ou reduzir a relação dívida/PIB até 2016. Infelizmente, não se chegou a um consenso quanto à necessidade de regras globais para os mercados financeiros internacionais, destinadas a coibir e punir as fraudes e os abusos generalizados que os caracterizam, nos dias de hoje.
Enquanto outros países se fizeram representar na cimeira por seus chefes de governo, o presidente Lula se ausentou. Representou o Brasil na ocasião o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).