Autor : Luís Miguel Novais – Advogado E-mail : opiniao@grandeportoonline.pt
A Associação Comercial do Porto organizou um curso de língua chinesa (mandarim) comercial para os seus associados. Inscrevi-me, entusiasmado e agradado pela oportunidade da iniciativa. E também inscrevi a minha filha mais velha, certo de que no futuro falar em chinês será ainda mais necessário do que já é actualmente. Ao fim e ao cabo, a China além de maior importador do mundo é agora, também, o maior exportador do mundo. O curso não se realizou por falta de participantes.
Custa-me a compreender por onde anda o corpo de comércio que no Porto tem tanta tradição. Por onde andam aquelas pessoas empreendedoras e com visão de presente e futuro, agora denominados empresários? Parece que não pela China.
Senão, creio eu, teriam interesse em comunicar, como fizeram os nossos antepassados, directamente de Português para Chinês, sem ter que passar pelo Inglês (triangulação perfeitamente desnecessária, redutora e criadora de confusões indesejáveis em qualquer negócio). Será que tinha razão Fernando Pessoa quando afirmava: “com a dispersão por todo o mundo e a morte em tantos combates, precisamente daqueles elementos que criavam o nosso progresso, o nosso pequeno povo foi pouco a pouco ficando reduzido aos elementos apegados ao solo, aos que a aventura não tentava, a quantos representavam as forças que, numa sociedade, instintivamente reagem contra todo o avanço”?
Numa viagem minha em 2004 a Pequim, onde fui proferir uma conferência sobre a adesão da China à Organização Mundial do Comércio, encontrei empresários portugueses no avião. Que terá sucedido desde então? Estarei muito enganado ou a corrente de comércio entre Portugal e a China é incipiente ou praticamente inexistente? E muito em especial no que respeita ao corpo de comércio do Porto?
Tantas interrogações têm o amargo sabor a quase certeza quando, como é o caso, a Associação Comercial do Porto, superiormente dirigida por Rui Moreira, não encontra participantes suficientes para um curso de chinês comercial. Imagine-se se há um século atrás os empresários portuenses e demais membros do corpo de comércio da cidade, reunidos nessa mesma associação, não tivessem aderido ou participado em cursos de… inglês comercial.
Para desamargar a boca, fica-me a participação (em Lisboa, pois claro) como convidado no lançamento, em 14 de Outubro de 2009, de dois livros do meu amigo e colega advogado internacional Durval Noronha sobre, precisamente, negócios na China (em português) e negócios em Portugal (em chinês). Falta só acrescentar que o meu amigo Noronha (grande amigo e conhecedor de Portugal) é brasileiro, para se compreender de que lado está a iniciativa.
Não está em Portugal: a iniciativa empresarial dirigida ao fomento de negócios luso-chineses vem, agora, do Brasil – saudavelmente, diga-se, ao menos isso; mas que pena a falta do corpo de comércio do Porto.
Escusado será dizer que não consigo ler o livro em língua chinesa do Durval Noronha sobre como fazer negócios em Portugal dirigido aos empresários chineses. Quisessem os outros associados da Associação Comercial do Porto ter assistido em número suficiente ao curso de mandarim comercial e, quiçá, conseguiria ler este livro.
Aquele que consigo ler é o outro livro, também de Durval Noronha, em língua portuguesa e sob o título “Negócios na China – Guia Legal”. Escrito em bom português e recheado de coisas com interesse (digo eu, da minha banca de advogado) para qualquer empresário português que queira estabelecer relações comerciais directas com os seus congéneres chineses: tipos de sociedades comerciais na China; formas de investimento estrangeiro na China; tributação na China; o Direito da Propriedade Intelectual na China; protecção laboral na China; defesa comercial na China; sistema judicial na China; vistos para a China.
Por ventura serei o único membro do corpo de comércio do Porto que sente necessidade de aprender chinês comercial?
http://www.grandeportoonline.pt/catalog/product.do?productId=d1dc549924298dd00124a54dc1cd03da
http://www.noronhaadvogados.com.br/artigos/negocios-china.pdf