Prefácio do livro Outras Culturas de Sylvia Cury, Lisboa, 24 de julho de 2018.
A fotografia é, sim, uma arte, em seu conteúdo, quando vem transformada num meio de manifestação cultural, utilizado com a intenção de ressaltar uma ideia, demonstrar uma perspectiva social particular, afirmar uma posição humanística, expressar um sentimento, despertar emoções, instigar imaginações, denunciar uma injustiça ou, simplesmente, de homenagear o belo. Na forma, a fotografia demonstra-se artística quando seu resultado é plasticamente perfeito, encantador em sua perspectiva e ângulos, fascinante em suas cores e vieses, ou mesmo veemente, duro e loquaz no preto e branco. Assim, o fotógrafo é um artista e o seu meio, a câmara fotográfica, torna-se um instrumento de seu talento e imaginação, da mesma maneira que a tinta a óleo e as telas para o pintor.
Fotógrafa há décadas, Sylvia Cury é um talento com grande modéstia pessoal, qualidades que raramente se apresentam em conjunto. Perfeccionista nata, sempre buscou, nos mais recônditos espaços de sua alma, razões impeditivas para anteriores publicações de seu notável histórico acervo de fotografias das mais diversas situações e regiões, sempre extraordinárias plasticamente. Nascida em São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, no Brasil, este veio inesgotável de grandes talentos nas diversas áreas, ela já havia exposto, com grande sucesso e para aclamação geral, o seu trabalho fotográfico, no Brasil e no exterior, tendo recebido inúmeros prêmios importantes em seu justo reconhecimento qualitativo.
Graças ao encorajamento da família e amigos, convenceu-se finalmente Sylvia Cury a publicar esta obra, muito bem intitulada de OUTRAS CULTURAS. Essa traz uma primorosa coletânea parcial de algumas fotos de sua autoria, acompanhada de um delicioso texto igualmente de sua lavra, que revela a inspiração de grande sensibilidade da artista, para além de fornecer algumas informações úteis ao leitor para a melhor compreensão do produto do trabalho da fotógrafa. O texto explicativo recebeu uma excelente versão para a língua inglesa, o que irá facilitar a merecida colocação internacional do livro.
Quando me deparei inicialmente com o trabalho fotográfico de Sylvia Cury, há anos, não pude afastar o resultado de suas fotografias da comparação com a arte do grande pintor barroco italiano, Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610). De fato, tal como Caravaggio, Sylvia Cury retrata a sociedade como ela se apresenta, a real natureza e a gente do povo nas suas atividades quotidianas, de quem capta através de suas lentes a sua força psicológica. Da mesma maneira, e como fez Caravaggio durante o Renascimento, Sylvia Cury usa o claro escuro, as luzes intensas e seus contrastes. Em seu trabalho de fotógrafa, ela faz transparecer clara e lucidamente a beleza pura das paisagens, o caráter das gentes e a formosura poética da natureza animal.
A obra OUTRAS CULTURAS, de Sylvia Cury, traz fotografias feitas ao longo de alguns anos em lugares diversos, mundo afora. Neste livro, são exibidos trabalhos feitos no México, em Israel, nos Emirados Árabes Unidos, na Argentina, na Turquia, na Costa Rica, no Peru, na Suíça, no Vietnã e na Tailândia, o que demonstra o seu caráter cosmopolita. É difícil singularizar esta ou aquela fotografia para destaque especial, pois são todas igualmente belas. Todavia, a mim, chamaram-me a atenção particular aquelas da Pirâmide do Mago, em Uxmal, no México; a dos pratos de azeitonas no mercado de Tel-Aviv, em Israel; as das crianças de origem nativa em trajes típicos, no Peru; a da Baía de Halong, no Golfo de Tonkin, no Vietnã; a do Buda reclinado, na Thailândia; a do movimento dos dançarinos de tango, na Argentina; a da mulher no mercado, em Istambul; a do sapo Blue Jeans, na Cosa Rica, e aquela dos camelos em claro-escuro, nos Emirados Árabes Unidos.
O livro OUTRAS CULTURAS, de Sylvia Cury, é um primor e muito merece ser lido e admirado pelos amantes do belo e da notável arte da fotografia.
Lisboa, em 24 de julho de 2018.
Durval de Noronha Goyos Júnior
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).