Há aqueles cegos pelo partidarismo político, ou pior ainda, pelo colonialismo cultural, que julgam ser parceiros comerciais válidos apenas às antigas potências coloniais e aquelas economias hegemônicas ou imperiais dos dias de hoje. A opção feita pelo governo brasileiro, a meu ver acertada, é a de se desenvolver novas oportunidades em mercados alternativos, enquanto se mantém os laços tradicionais de comércio internacional.
Assim, nossas exportações para a República Popular da China, um parceiro não tradicional, que eram de US$ 2,5 bilhões em 2002, passaram para US$ 5,4 bilhões em 2003, situando-se no mesmo patamar em 2005. Por sua vez, nossas vendas para o Japão, um parceiro tradicional, também cresceram, tendo ido de US$ 2,1 bilhões em 2002 para US$ 2,3 bilhões em 2004 e US$ 2,8 bilhões em 2005. Vê-se que a expansão das trocas com a China em nada conflitou com o aumento do comércio bilateral com o Japão, já que os fluxos comerciais bilaterais não são excludentes.
O caso da Índia não é diverso, como bem apontado pelo notável brasilianista, embaixador R. Viswanathan, em artigo publicado em 4 de junho próximo passado no jornal indiano, The Financial Express. O embaixador R. Viswanathan foi cônsul-geral da Índia em São Paulo, anos atrás, e hoje chefia o departamento de assuntos latino-americanos do Ministério das Relações Exteriores da Índia.
De acordo com o artigo supra mencionado, e de conformidade com as estatísticas indianas, no primeiro trimestre de 2005, as exportações brasileiras para aquele país do subcontinente asiático passaram de US$ 44 milhões, em 2004, para o importante número de US$ 271 milhões, o que permite o prognóstico seguro de um total anual de exportações, para este ano corrente, de mais de US$ 1 bilhão. O comércio bilateral poderá superar a marca de US$ 2 bilhões.
No passado, salvo honrosas exceções, o empresariado brasileiro insistia em ignorar as extraordinárias conquistas econômicas da Índia, com taxas de crescimento elevadas, num patamar médio de 7%, nos últimos anos. Mais ainda, ignorava-se que a Índia havia se tornado uma economia internacionalmente competitiva em diversas e importantes áreas, dentre as quais a farmacêutica, química e a de tecnologia de informação.
Por outro lado, o Brasil tornou-se competitivo na indústria aeronáutica e automobilística, no agro-negócio e na mineração. São, portanto, Brasil e Índia, economias complementares. Teve, portanto, grande mérito no saudável incremento comercial a visita de Estado do presidente Lula à Índia em janeiro de 2004, na qual incorporou uma grande delegação empresarial.
Colhem-se hoje os frutos plantados naquela ocasião.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).