O US Census Bureau, escritório de estatísticas dos EUA (Estados Unidos da América), divulgou no dia 13 de setembro de 2011 dados que revelam que a taxa de pobreza no país atingiu, em 2010, o maior patamar, ou aproximadamente 50 milhões de miseráveis, desde que levantamentos da espécie começaram a ser realizados em 1959. Em termos percentuais, a taxa de pobreza elevou-se para 15.1% de 14.3% em 2009, um ano já bastante difícil.
Esse número equivale às populações combinadas de Argentina, Paraguai e Uruguai e é ainda superior ao número de pessoas de São Paulo,estado mais populoso do Brasil. Esse contingente populacional corresponde ainda à população da África do Sul.
O que torna mais grave a situação revelada pelas estatísticas divulgadas pelo governo americano é a concentração das chamadas minorias étnicas nos patamares de pobreza, trazendo a questão para o campo da violação dos direitos humanos. De fato, mais de 25% das populações negra e hispânica situam-se hoje abaixo da linha de pobreza, juntamente com 43% dos jovens de todas as raças.
Essa triste situação é consequência de décadas de uma insensata política econômica, fundada na doutrina alucinada do neoliberalismo, que levou, na esfera doméstica, privilégios a uma minoria racial, os brancos; e outra empresarial, quais sejam elementos da área financeira e do complexo industrial-militar.
Por outro lado, na área internacional, a política externa procurava promover o jogo de soma zero, onde o ganho econômico e comercial dos EUA consistia na perda encaixada pelos demais países do mundo. Eventuais resultados positivos não puderam se manter, contudo, devido ao alto custo de manutenção do aparato militar necessário para sustentar a referida política.
No ano de 2011, ainda não coberto pelas estatísticas, a situação interna dos EUA tem se deteriorado, com um aumento do desemprego para 9.1% nos números oficiais, sempre otimistas. Tal estado de coisas levou o Presidente Barack Obama a propor um pacote de US$ 450 bilhões para a criação de novos empregos.
A miséria do povo americana é agravada pelas notórias deficiências na área de seguridade social, aquela mesma que o neoliberalismo professa dever estar relegada à iniciativa privada. De fato, mais de 50 milhões de pessoas abaixo dos 65 anos de idade não têm seguro saúde nos EUA.
Mais ainda, 3.2 milhões de americanos são mantidos acima da linha de pobreza como resultado dos efeitos do seguro-desemprego, um benefício apenas transitório, o que nos leva a crer que em breve se somarão ao elenco dos miseráveis do país. Da mesma forma, 20.3 milhões de pessoas são mantidas acima do patamar de pobreza pelos desembolsos do seguro-social, um programa também de efeitos limitados.
Assim, somado todo o contingente da população miserável, temos hoje aproximadamente 73 milhões de cidadãos dos EUA, número que revela uma grave crise humanitária sem precedentes naquele país. Não se vislumbram por ora alternativas para a reversão do quadro.
É de se recomendar às devidas instâncias do MERCOSUL, bem como ao Congresso brasileiro, o envio de observadores para averiguar as violações básicas dos direitos humanos no território dos EUA, pelo governo daquele país, com a finalidade de propor medidas e reportar os fatos aos devidos organismos multilaterais.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).