Excelentíssimo Doutor Antonio Carlos Del Nero, ilustre presidente da Academia Rio-Pretense de Letras e Cultura, dignos Senhores Acadêmicos, Caras Amigas e Amigos, Senhoras e Senhores,
Agradeço inicialmente a generosa apresentação feita pelo meu querido amigo de infância, notável cirurgião cardíaco, escritor e, antes de tudo, grande cavalheiro, o Acadêmico Dr. José Luís Balthazar Jacob. Em ocasiões semelhantes, é de praxe fazer-se o elogio do patrono da cadeira e dos antecessores. Como, no caso, sou o primeiro a ocupar a cadeira 37, gostaria de fazer o encômio da nossa gente e das nossa coisas e, bem assim, alguns comentários sobre a importância do nacionalismo cultural no Brasil.
O Nacionalismo tem sido nos últimos séculos a força motriz tanto das ações dos países imperialistas e hegemônicos quanto da resistência dos países periféricos. Foi o nacionalismo que inspirou as políticas coloniais européias que misérias semearam mundo afora. Kipling, muito cinicamente, justificou o cruel imperialismo inglês, que chegou mesmo a promover o tráfico institucional e a produção de ópio, para além do tráfico de escravos,e também o americano, como “the white man’s burden”, o ônus do homem branco.
Por sua vez, os Estados Unidos da América justificaram suas guerras imperiais de conquista, inclusive aquelas contra o México, em que tomaram mais de metade do território deste, como “o manifesto destino” de sua superioridade. Hitler quis promover a supremacia da raça ariana, enquanto Mussolini ambicionou a criação de um novo império romano, com aventuras na África e nos Bálcãs. Os militaristas japoneses procuraram provar a supremacia de seu povo com o desprezo a outros.
A chamada guerra fria foi um confronto de imperialismos. Com o passar dos anos, um núcleo duro de países hegemônicos buscou tentar impor seus valores, sua cultura e sua ascendência sobre os demais, com o objetivo de tanto aplicar um receituário para a sua sistemática exploração rapace, como também auferir vantagens estratégicas, comerciais e financeiras. A este fenômeno convencionou-se chamar globalização.
De outro lado, foi também o nacionalismo que inspirou a resistência dos países explorados contra os desígnios do imperialismo econômico e cultural. Assim, foi o nacionalismo que inspirou os movimentos de independência na América Latina e de descolonização da África. Foi o nacionalismo a força que inspirou a criação da República da China em 1912 e a República Popular da China em 1949. Foi o nacionalismo o matiz da campanha de independência da Índia, dado por Mahatma Gandhi. Foi o nacionalismo a induzir o grande Nelson Mandela à libertação de seu povo dos grilhões do apartheid.
No Brasil, foi o nacionalismo o movimento a alimentar o grande esforço de construção econômica do País, a partir da proclamação da República. Foi o nacionalismo também a inspirar a Semana da Arte de 22 e seus grandes nomes como Villa Lobos, Tarsila do Amaral, di Cavalcanti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Victor Brecheret, e Menotti Del Picchia, dentre outros.
Nas palavras do grande pensador brasileiro, Prof. Carlos Lessa, “a nação como território da soberania de um povo… é a instituição matriz e mantenedora dos anteparos diante de um mundo cada vez mais propenso a uma crise estrutural…”
O nosso nacionalismo se caracteriza pela promoção dos anseios de prosperidade econômica e do desenvolvimento social do povo de um país, pelo engrandecimento de suas instituições e pela afirmação de seus valores humanos, sociais e culturais. Fernando Pessoa escreveu que “O nacionalismo é um patriotismo ativo. Pretende defender a pátria das influências que possam perverter a sua índole própria…”
Tinha razão o grande poeta português. Através da desmoralização dos valores de terceiros, promovem sua ascendência os países hegemônicos com aquilo que chamam de “soft power”. Incentivam a esterofilia e a percepção de que tudo o que é estrangeiro é melhor. A promoção da depreciação dos outros abre o caminho para os seus produtos e serviços e, afinal, sua dominação. Trata-se da colonização mental tão bem denunciada por Gabriel Garcia Marquez.
A corrupção da língua nacional pelos estrangeirismos desnecessários é uma manifestação daqueles maus brasileiros que depreciam tudo o que é doméstico. Ora, já alertava o grande Eça de Queirós que “na língua verdadeiramente reside a nacionalidade e que uma nação só vive porque pensa”. O aviltamento lingüístico corresponde à destruição da alma nacional.
Pois bem, a Academia Rio-Pretense de Letras e Cultura é um agente de promoção dos valores culturais nacionais e do humanismo. Dessa maneira, ela presta um inestimável serviço ao País. Ela encoraja e valoriza a produção literária e artística e bem assim a afirmação da língua portuguesa. Numa região muito rica nas manifestações culturais próprias, as tradições caipiras, a Academia tem um papel relevante na preservação de seus tesouros e bem assim no modo de falar e no vocabulário precioso de origem tupi-guarani, que designa a nossa flora e a nossa fauna, bem como tantos dos nossos sentimentos e maneirismos.
É com muita alegria e grande orgulho que hoje assumo a Cadeira 37 da Academia de Letras e Cultura de São José do Rio Preto, minha muito amada terra natal, como uma expressiva homenagem à minha pessoa e com o firme compromisso de emprestar minha modesta contribuição ao engrandecimento de nossa gente e de nossa cultura.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).