Istanbul – A Turquia celebrou, no dia 30 de outubro de 2010, o 87º aniversário da proclamação da República em clima de otimismo e prosperidade. Após os tempos difíceis da década de 90, e ainda da crise financeira havida em 2001 e 2002, o país de 72 milhões de habitantes vive hoje tempos de estabilidade política conjugada com crescimento econômico.
No período de 2002 a 2008, a economia turca cresceu a uma taxa média de 6% ao ano. Como no resto do mundo, o ano de 2009 foi muito ruim, tendo a economia retraído fortemente, em nada menos de 4%. Contudo, para 2010, a previsão é de um crescimento sólido da ordem de 6.5% e, para 2011, de 4.4%.
O impacto negativo de 2009 é explicado pela grande dependência do comércio exterior turco com a EU (União Européia), da ordem de 55%. Da mesma maneira, cerca de 80% do movimento turístico na Turquia, uma importante fonte de divisas, vem da UE. Com a crise econômica e financeira mundial que muito afetou a UE, a Turquia também sofreu as conseqüências.
Contudo, o sistema bancário turco, reformulado com a crise de 2001, passou incólume pelas turbulências recentes. O risco Turquia é hoje melhor que o risco Portugal ou Grécia, muito embora o país ainda seja considerado abaixo do grau chamado de investimento pelas agências de avaliação de risco, entidades pouco confiáveis que mais acertam do que erram em suas estimativas.
A taxa de inflação do país é de 7.5% e as taxas de juros estão no patamar de 7.7%. O crescimento do crédito no último ano foi de 28%, mas a economia do país, assim como a do Brasil, é ainda pouco alavancada por endividamento. O país é um grande recipiente de investimentos diretos estrangeiros, dos quais 44% são dirigidos ao setor financeiro.
Contudo, o déficit comercial turco é expressivo, na ordem de US$ 57 bilhões acumulados nos últimos 12 meses. Consequentemente, é também alto o déficit do balanço de pagamentos do país, por volta de US$ 33 bilhões no último ano. O desemprego situa-se no patamar de 10%, taxa equivalente àquela dos Estados Unidos da América. A economia turca é bastante dependente do setor de serviços e busca maior competitividade no setor industrial e agrícola.
Para tanto, o país procura uma diversificação do seu comércio exterior, que cresce no Oriente Médio de maneira expressiva, com o aumento da influência diplomática turca na região. De fato, o governo turco, assentado em sólida democracia, pratica uma política externa benigna e responsável, o que é reconhecido pelos principais atores na região.
Na preocupante questão do Irã, que se encontra ameaçado pela cobiça hegemônica, a Turquia, aliada ao Brasil, procura meios diplomáticos para promover a paz e o equilíbrio regional. Afiliada à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) recusa-se a ter armamentos direcionados contra um só país e se tornar zona fronteiriça de conflito. Recentemente, o país realizou manobras aéreas conjuntas com a China.
Desde 2005, a Turquia negocia um processo de acessão à UE, que não é levado muito a sério pelo bloco econômico, por razões de preconceitos históricos, raciais e religiosos que envergonham a Humanidade. Diversos líderes europeus manifestaram-se abertamente contra a acessão da Turquia, instigando os piores sentimentos nas suas respectivas populações.
No momento em que o Brasil afirma-se no cenário global refletindo sua situação econômica e política mais poderosa e buscando alianças globais, a Turquia apresenta-se como um aliado e um parceiro natural e de grande interesse, assim como os países da América do Sul, a Índia, a China, a África do Sul e a Rússia.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).