São Paulo – A UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento) divulgou relatório intitulado World Economic Situation and Prospects2011 no último dia 20 de janeiro deste ano, que conclui estarem os países em desenvolvimento ainda a liderar a retomada econômica mundial sob um clima de persistentes riscos.
O Relatório enfatiza a possibilidade de fatores diversos como altas taxas de desemprego, da retirada prematura de medidas de estímulo econômico e de guerras cambiais complicar os cenários globais. A taxa de crescimento global prevista para 2011 é de 3.1%, seguida para 3.5% em 2012, ainda abaixo do ritmo verificado anteriormente à crise financeira, que era de 3.6%.
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Para os países em desenvolvimento, espera-se um crescimento econômico mais brando para 2011, por volta de 6%, inferior, portanto àquele verificado em 2010, na casa dos 7%. Esse crescimento será provavelmente o dobro daquele esperado para a economia dos Estados Unidos para este ano.
Outro estudo divulgado recentemente pela UNCTAD alguns dias antes do Relatório sobre o volume dos investimentos diretos estrangeiros no mundo em 2011 dá conta que, pela primeira vez na história, os países emergentes atraíram a maior parte dos recursos, ou seja, 53% do total de US$ 1,12 trilhões.
China e Hong Kong, juntas, receberam US$ 160 bilhões contra US$ 186 encaixados pelos EUA, os principais recipientes do investimento estrangeiro direto. O Brasil ficou em nono lugar na lista dos maiores recipientes, tendo recebido cerca de US$ 30 bilhões de investimentos líquidos, com um aumento de 16% em 2010 com relação ao ano anterior.
A China tornou-se o principal investidor estrangeiro no Brasil, com aportes de aproximadamente US$ 10 bilhões em 2010. Segundo outras fontes, o total de investimentos estrangeiros chineses no exterior é estimado em US$ 60 bilhões para aquele ano. A China é também o maior credor mundial dos países em desenvolvimento, com créditos estimados em cerca de US$ 110 bilhões.
Brasil e Índia, dois grandes países em desenvolvimento, por sua vez, conforme dados disponíveis, tornaram-se igualmente grandes investidores no exterior: o primeiro com desembolsos estimados em cerca de US$ 20 bilhões e a segunda com US$ 10 bilhões para o ano de 2010.
Todos estes indicadores apontam para o fato de que os países em desenvolvimento, de uma maneira geral, passaram a ser grandes protagonistas na ordem econômica global, o que era de se esperar devido à preponderância da população mundial em seus territórios. Todavia, assimetrias em grande parte induzidas impediam esse desdobramento, que hoje parece inexorável.
A tendência verificada deve se firmar. Países em desenvolvimento têm maiores facilidades na busca do entendimento e na concepção de fórmulas de cooperação que são indispensáveis para a construção de uma nova ordem global. Por sua vez, os países desenvolvidos, notadamente aqueles com economias deformadas pelos sistemas financeiros de alto risco, deverão continuar a encontrar dificuldades no futuro próximo.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).