A alegria com que eu usualmente reencontro os amigos em São José do Rio Preto, cede hoje lugar ao profundo sentimento de perda, pelo desaparecimento, seis dias atrás, do querido Amigo, Dr. Aloysio Nunes Ferreira, ao 89 anos de idade. Toma-me a tristeza.

Na realidade, o Dr. Aloysio era já amigo e coetâneo de meu pai, também de saudosa memória e falecido já há 30 anos. Herdei a amizade. Que auspicioso legado! Nos idos da década de 50 éramos praticamente vizinhos. Freqüentemente, o Dr. Aloysio e meu pai estavam a conversar e eu a ouvi-los.

O Dr. Aloysio Nunes Ferreira foi, depois de meu pai, meu primeiro paradigma. Eu aspirava ser igual a ele e sinceramente espero ainda um dia atingir esta meta. Ele personificou, mais do que ninguém, a dignidade nacional, bem como nosso sentimento básico de honra na resistência civil e contestação moral à ditadura militar. Defendeu com desassombro o nome de seu filho e, assim o fazendo, representava a consciência nacional. Foi o seu maior caso, bem como seu melhor e inigualável desempenho.

Destemido e intimorato desafiou por mais de uma década o sombrio regime militar armado do mais potente arsenal disponível à humanidade: a convicção na Justiça, na prevalência do Direito e no império da Lei. À justa indignação de homens como o Dr. Aloysio Nunes Ferreira é que devemos nossa democracia atual.

Natural de Niterói, considerava-se rio-pretense. Para São José do Rio Preto trouxe a primeira instituição de ensino superior, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Era o decano dos advogados de nossa Terra.

Desconheço pai mais consistentemente dedicado e amigo mais leal. Todas as vezes que cá estive para qualquer função ou atividade pública, desde a primeira ocasião, lá estava o Dr. Aloysio com sua presença alegre, fala inteligente e postura digna. Numa feita, ao invés das muitas centenas de companheiros e companheiras que cá estão hoje para me ouvir, eram apenas 3 os participantes, todos amigos. Um deles foi o Dr. Aloysio, que se portou como se o auditório estivesse apinhado como hoje está.

Assim, deixei hoje aqui junto à mesa uma cadeira vaga, coberta com a beca, negra como nossa dor. É o lugar do Dr. Aloysio Nunes Ferreira. Que saudades…………..