Londres – Na semana do dia 17 de janeiro de 2010, o jornal britânico Financial Times publicou uma série de reportagens sobre Brasil, Rússia, Índia e China, países denominados em conjunto pelo acrônimo Brics, ressaltando que já na década de 2000 a 2009, estes foram em conjunto responsáveis por mais da metade do crescimento econômico mundial. Mais ainda, para a próxima década espera-se que os Brics representem aproximadamente dois terços do crescimento econômico global.
Ao se comparar os Brics uns contra os outros, o Brasil apresenta-se com uma nítida vantagem em diversas áreas, como é já sabido. Em primeiro lugar, a consolidação do estado de direito e a segurança jurídica são fatores que dão credibilidade institucional ao Brasil e atraem investimentos domésticos e estrangeiros. Acresce que os recursos naturais existentes em nosso país e suas condições climáticas são grandemente vantajosos.
No entanto, alguns números levantados pelo Financial Times chamam a atenção. No tocante à telefonia celular, por exemplo, o Brasil já detém um número de assinaturas aproximado dos EUA e do Japão, quase o dobro daquelas na China e o triplo dos na Índia, em percentual por grupo de 100 habitantes. Com relação aos usuários de Internet, instrumento de educação e trabalho tanto do presente como do futuro, o Brasil detém aproximadamente o dobro daqueles da Rússia, o triplo da China e quatro vezes o da Índia, sempre no mesmo critério proporcional.
Respeitantemente aos donos de aparelhos de televisão, o Brasil aparece com um número aproximado ao da China, quatro vezes superior ao da Índia, mas cerca de 25% inferior ao da Rússia, aqui se utilizando um critério de proporção para cada grupo de 1.000 habitantes. Nada mal, considerando-se que o Brasil tem mais da metade dos aparelhos da Alemanha.
Contudo, no número de jornais diários por grupo de 1.000 habitantes, o Brasil surpreendentemente aparece como o último da classe, com cerca de um terço daqueles na Rússia e metade dos da China e da Índia (sic). Como é possível?! Se o jornal britânico tivesse publicado as estatísticas comparativas do mercado editorial, o resultado teria sido provavelmente assemelhado.
A estatística comparativa do número de jornais diários nos Brics demonstra uma tanto grave quanto danosa falha social e cultural no Brasil. Nós não assinamos os jornais e temos, sem dúvida, muito a perder por isso, a curto, a médio e a longo prazos.
De fato, um jornal diário em casa proporciona a presença física de um referencial da Língua Portuguesa, disponível para toda a família. Mais ainda, as informações trazidas permitem um melhor conhecimento social e cultural de nosso país, como também do mundo. Um jornal traz, a par de conhecimentos úteis, como nos cadernos ou seções de economia, agricultura e informática, por exemplo, informações culturais, esportivas ou atinentes ao lazer.
Os editoriais dos jornais trazem a responsável, mas diversificada e até mesmo contraditória, opinião das publicações, enquanto os artigos assinados aportam a visão de consagrados jornalistas ou aquelas de renomados especialistas nos diversos setores de atividade humana. As publicidades oferecem produtos, serviços e postos de trabalho.
Muitos jornais trazem cadernos semanais especializados dedicados ao público infantil. A criança muito se beneficia da presença física de um jornal diário em casa. É através do jornal que se aprimora o domínio da língua materna, se adquire um vocabulário funcional, um bom manejo das regras gramaticais e, mais ainda, o amor pela boa leitura. Um jornal não exclui, como não substitui a Internet, como aos livros. Eles se complementam.
Vamos, portanto, todas as famílias brasileiras assinar um jornal, como um certo investimento no futuro de nosso país.
Lawyer admitted in Brazil, England and Wales and Portugal. GATT and WTO panelist. Brazilian government ad-hoc representative for the Uruguay Round of the GATT. Post-graduation professor of the law of international trade.