Setores importantes da economia do estado, como calçados e móveis, veem exportação para o país vizinho despencar

Paola Carvalho  
 
O empresariado se mobiliza para pressionar o governo brasileiro a apertar o cerco contra medidas protecionistas adotadas pela Argentina desde o agravamento da crise. O presidente do Sindicato da Indústria do Calçado de Nova Serrana e Região (Sindinova), um dos maiores polos do país, no Centro-Oeste de Minas, Ramon Alves Amaral, desembarca hoje em Brasília, onde vai se encontrar com outros lideres nacionais para discutir alternativas para amenizar o prejuízo já causado pelo país vizinho. Ele alerta que há empresas com carregamento parado na alfândega há meses à espera da liberação da entrada da mercadoria no mercado argentino.

No caso da Tamy Calçados, por exemplo, são dois contêineres com 12 mil pares cada um parados por mais de dois meses esperando a liberação. “Vamos perder negócio porque a coleção fica antiga. É prejuízo na certa. Algo tem que ser feito”, reclama Amaral, dono da empresa. O polo de calçados da região abriga cerca de 900 empresas, que somam uma produção de 350 mil pares por dia. Do total produzido, 3% é destinado ao mercado externo, sobretudo para a Argentina (90%).

Outro setor que sofre impacto das medidas restritivas da Argentina é o de móveis. “Eles estão dificultando o processo. Antes, as licenças eram automáticas. Agora, são manuais. Essa burocracia emperra negócios”, afirmou a gerente do Sindicato Intermunicipal da Indústria Moveleira de Ubá (Intersid), Helena Martins de Souza Hilário. De acordo com ela, as exportações do polo para o país caíram 77% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, passando de US$ 423 mil para US$ 98 mil. “Pode parecer pouco, mas é muito para as empresas daqui. Garante muito emprego”, salientou. No país, a queda dos embarques do setor é de 36%.

Em razão das restrições impostas às importações de uma série de produtos brasileiros, como os calçados e os móveis, além de brinquedos, eletrodomésticos, têxteis, autopeças e celulose, o governo brasileiro pode entrar com uma ação contra seu principal parceiro no Mercosul na Organização Mundial do Comércio (OMC). A principal justificativa seria o descumprimento das regras em vigor, de liberar licenças de importação em até 60 dias para ingressos não automáticos e até 10 dias para automáticos.

Mas a OMC não vai resolver o problema do país, na opinião do advogado Durval de Noronha Goyos Júnior, árbitro da organização e da Comissão Internacional de Arbitragem Comercial da China. “A queixa do Brasil é legítima, mas só o diálogo vai resolver essa questão”, avaliou. Ele explicou que a OMC deve apurar a questão, mas fazer apenas uma recomendação à Argentina, que pode não aceitar. “Pode ainda optar por derrubar a barreira com os sapatos, por exemplo, mas criar para outros produtos. Isso não é saudável para a relação entre os dois países”, pondera.

Na semana passada, com o aval dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner, empresários dos dois países conseguiram fechar acordos de restrição voluntária de embarque em áreas sensíveis, como freios, baterias e celulose. Contudo, há desconfiança por parte dos empresários. Isso porque o Brasil está perdendo mercado para produtos chineses, já que as exportações da China para o país, contraditoriamente, vem crescendo. O clima de irritação ganha força com declarações feitas pelos “hermanos”.

A imprensa argentina divulgou que o governo passaria a autorizar importações apenas a empresas que realizem exportações em mesmo valor, em dólares.