Um quarto de século! Foi no dia 1º de junho de 1978 que fundamos nossa sociedade de advocacia, Noronha Advogados, então Noronha, Machado e Salles. No início, era apenas um sonho. Depois, repentinamente …e pure si muove. Lembro-me claramente do calor da paixão da realização da ambição profissional, arrefecida pelo gélido sentimento da incerteza. Recordo-me com afeto daquelas poucas faces dos companheiros de empreitada, marcadas igualmente pela motivação e pela dúvida. Eram, afinal, para nós, os mares nunca dantes navegados da advocacia liberal e do risco. Éramos três os sócios, o José Maurício Machado (na época, com 28 anos), o Antonio Carlos de Moraes Salles Filho (na época, com 26 anos) e eu (na época, com 26 anos); um estagiário, o Luís Ernesto Gozzoli, que depois tornar-se-ia sócio; uma secretária, a Vivian Elsbach e um mensageiro, o Walther Mitsuiama. Logo, viria o José Paulo Lago Alves Pequeno a se juntar ao grupo como advogado e, imediatamente em seguida, como sócio.
Os tempos eram difíceis. Vivíamos a época sombria da ditadura militar. Advogar numa ditadura é sabidamente difícil. Impunha-se uma opção ética profunda, desde o início. Mesmo nas dificuldades dos primeiros dias, tomamos a posição de que não iríamos advogar para o governo e para empresas estatais. Não queríamos ser co-optados pelo odioso sistema. Já havia acabado o chamado "milagre brasileiro" e o capital estrangeiro batia em retirada num daqueles tradicionais movimentos pendulares que aflige as economias em desenvolvimento. Os grandes escritórios de advocacia, aqueles mesmos que ainda hoje são nossos concorrentes, já existiam e o mercado era recessivo.
Impunha-se uma busca de nichos em que Noronha Advogados pudesse competir com vantagens, face à especialização de seus sócios. Optamos por assistência jurídica na área de sociedades e mercado de capitais, que estavam reguladas por recentes leis de 1976; nos empréstimos externos; no campo do direito do comércio internacional; no setor fiscal; e nos contratos comerciais. Como o visto, havia uma grande ênfase no direito internacional e financeiro. Não tínhamos um setor contencioso. O movimento profissional era crescente e freqüentemente trabalhávamos 7 dias por semana. As notas de honorários eram feitas diretamente pelos sócios, à noite, no último dia do mês, ao redor de uma garrafa de whisky JB e de latas de castanhas de cajú.
Criamos, desde o início de nossas atividades, um programa de educação continuada dos profissionais do escritório, antecedendo em quase duas décadas uma iniciativa semelhante da Ordem dos Advogados do Brasil. Decidimos ainda ter um programa de ação afirmativa para as advogadas. Naqueles idos, as mulheres ainda eram uma minoria na profissão e tinham dificuldades de ascensão funcional
Em julho de 1982, já contávamos com muitos daqueles que foram nossos companheiros todos estes anos, incluindo a Eliana Filippozzi, o Ruben Fonseca e a Clarice Tchala. Naquele mês e ano, inauguramos nosso primeiro escritório no exterior, localizado, em Miami, Florida, EUA, sob a responsabilidade de um novo sócio, Lawrence Evans, para assistir nossos clientes exportadores, cujos produtos entravam naquele país pelos portos do sul, notadamente Houston e Nova Orleans. Noronha Advogados foi o primeiro escritório brasileiro nos EUA e o único por um período de aproximadamente 15 anos! Para a comunicação entre os escritórios de São Paulo e Miami, desenvolvemos um programa de computador sob medida, que foi o primeiro do gênero em uso por escritórios de advocacia no mundo. A façanha foi obra do Lyman Booth Tucker e foi objeto de um capítulo especial num livro de informática. Lembro-me claramente do orgulho que sentimos quando representantes da Petrobras vieram examinar como funcionava o sistema.
No mesmo momento, abrimos um escritório na cidade do Rio de Janeiro, com um novo sócio, Edwin Walter jr. Posteriormente, passaram também por aquele escritório os sócios Luis Ernesto Gozzoli e o Gemecyr Nogueira, de saudosa memória, e mais recentemente a companheira Carolina Carvalho. Na época, passamos também a tratar de direito contencioso, societário principalmente, com um novo sócio, o Joel Fontão Teixeira. Foi nesta época que ingressou a Ideli Silva em Noronha Advogados. Em 1984, abrimos um escritório na capital federal, Brasília, com uma nova sócia, a Lúcia Teixeira Bahia, que ficou conosco muitos anos. No futuro mais distante, o Carlos Palmeira assumiu as funções da Lúcia e, mais recentemente, o Vladimir Spíndola, com a vinda do Carlos para cuidar da administração central, em São Paulo. Na ocasião, já trabalhávamos em todas as áreas do direito brasileiro, menos, como hoje, no direito falimentar e criminal. A Leila Nogueira passou a liderar o departamento de contratos comerciais, hoje sob a responsabilidade da Patrícia Lacerda.
Em 1988 abrimos um escritório em Londres, o primeiro escritório brasileiro de advogados na Europa! Para lá foi nossa sócia, a Dulce Maria Goyos Sicoli, que realizou um memorável trabalho, continuado a partir de 1989 pela Eliana Filippozzi. Foi a Eliana que recrutou, em Londres, o Robert Williams, que posteriormente tornou-se sócio e se mudou para o Brasil, onde se casou e constituiu família. Em 1990, abrimos um escritório em Zurique, Suiça, para atender questões atinentes ao Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), bem como atender a clientes da Europa Central. Para lá foi o sócio Frank Caramuru, que falava também o alemão, além de outras línguas. De lá, apoiamos o governo brasileiro nas negociações da Rodada Uruguai. Foi a primeira vez que o Brasil usou negociadores privados na história do País.
Fomos então um dos primeiros escritórios de advocacia no mundo a ter um computador por advogado. Desenvolvemos internamente o primeiro programa gerencial de escritório de advocacia no mercado brasileiro. Tivemos também o primeiro sítio na Internet. Continuando o pioneirismo, seguindo ao ingresso de Portugal na então Comunidade Européia, abrimos em 1990 um escritório em Lisboa, liderado então pela sócia Vera de Moraes Dantas, hoje em Londres com a Eliana. A partir de 1999, a Maria Antónia Cameira passou a ser a sócia responsável pelo escritório de Lisboa.
Com o advento do Mercosul, em 1994, abrimos um gabinete em Buenos Aires, com os sócios Martin Dedeu e Elbio Ferrario. Em 1998, abrimos um escritório em Los Angeles, o primeiro escritório brasileiro na costa oeste das Américas e o nosso segundo dos EUA, liderado pelo sócio Aurelio Guzzoni. No ano 2000, abrimos escritórios em Curitiba, com a sócia Miriam Marchiori; Porto Alegre, com o companheiro Eduardo Bratz; em Manaus, sob a responsabilidade do Rogério Damasceno Leal; e Salvador, com a companheira Andrea Testoni, todos no Brasil. Em 2001, abrimos o primeiro (e até hoje o único) escritório de advocacia da brasileiro e latino-americano na República Popular da China, com a companheira Cristina Luo. A sócia Lilian Thomé passou a controlar, desde São Paulo, os escritórios regionais brasileiros.
A atuação profissional em jurisdições múltiplas, resultado direto dos nossos 14 escritórios em 7 países, levou-nos à preparação de um código profissional deontológico interno consolidando as normas de todas as ordens de advogados onde atuamos. Incentivamos nossos advogados à qualificação profissional em outras jurisdições e obtivemos um sucesso exemplar.
Atendemos a milhares de clientes em questões das mais diversas. Alguns destes encontram-se ainda conosco, depois de um quarto de século. Outros, deixaram de existir. Muitos tornaram-se amigos. Afinal, a credibilidade, que é essencial para o exercício da advocacia, também é terreno fértil para as amizades pessoais. Além de empresas financeiras e não financeiras de diversas atividades, passamos a assessorar muitos Estados soberanos em questões de direito internacional.
Treinamos centenas de profissionais de dezenas de países, que hoje encontram-se conosco ou de volta aos seus países utilizando o aprendizado e a experiência profissional que tiveram com Noronha Advogados. A importância da experiência conosco pode ser claramente contemplada no orgulho expresso no semblante dos jovens estagiários contratados pela organização. Todos os nossos profissionais falam ao menos dois idiomas e valorizamos a diversidade étnica, política e religiosa dos nossos companheiros.
Construímos, enfim, o primeiro e único escritório internacional e global de um país em desenvolvimento. Um feito extraordinário que nos orgulha a todos e que já faz parte da história. Este sucesso ímpar não teria sido possível sem o apoio de nossos clientes e amigos e da formidável legião de colaboradores, estagiários, advogados e sócios que fizeram ou ainda fazem parte de Noronha Advogados, e que laboriosamente construíram nossa nomeada, internacionalmente reconhecida.
Este é o alicerce do nosso futuro…
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).