Milão – A República Popular da China acelerou o ritmo de retirada de suas reservas denominadas em moedas estrangeiras, e estimadas em aproximadamente US$ 2,5 trilhões, não apenas do dólar norte-americano, como dos títulos do tesouro dos EUA (Estados Unidos da América). No primeiro semestre de 2010, a China reduziu sua posição em títulos do tesouro dos EUA em 6%, para um total de US$ 843 bilhões.
A percepção do governo chinês é que a importância relativa do dólar americano decresceu substancialmente após a crise, não apenas pelos fundamentos fracos da economia dos EUA, como também pelo papel mais relevante de outros países em desenvolvimento na economia e nas trocas globais.
O país oriental, desde a crise de 2008, tem procurado movimentar suas reservas para ativos mobiliários que tenham lastro em mercadorias de relevância estratégica para sua economia. Da mesma maneira, a China tem feito investimentos em títulos de outras economias dinâmicas na área do comércio internacional, notadamente na Ásia.
No primeiro semestre deste ano, a posição chinesa em títulos do tesouro da Coréia do Sul aumentou em 111% para um total de US$ 3.4 bilhões, o que é ainda pouco em termos absolutos, por representar apenas 0.1% das reservas globais do país, mas indicativo da evolução da estratégia de aplicação de suas reservas.
Segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional), divulgados em 30 de junho de 2010, apesar da redução da exposição em títulos do tesouro americano, a posição chinesa nestes papéis continua a representar 61.5% do total da carteira de investimentos das reservas do país.
É certo que a China não pode repentinamente retirar a totalidade ou parte substancial de suas reservas dos títulos do tesouro americano, porque em tal hipótese os EUA não poderiam continuar a comprar produtos do país oriental.
Assim, a China hoje financia o déficit comercial que os EUA têm consigo. De mais a mais, qualquer movimento brusco de retirada poderia causar o colapso da moeda norte-americana, o que traria sérias repercussões negativas para a economia mundial.
O déficit comercial acumulado dos EUA nos últimos 12 meses é de US$ 592 bilhões, o déficit do balanço de pagamentos do país é da ordem de US$ 400 bilhões no último ano e o seu déficit orçamentário atingiu o tanto expressivo como inacreditável montante de US$ 1,5 trilhão apenas para o ano de 2010.
Com a redução gradual da posição chinesa em títulos do tesouro dos EUA, fica mais difícil para o governo deste país sustentar a expansão da economia americana, já bastante combalida pelos efeitos da crise econômica e com um desemprego recorde superior a 10% da força de trabalho.
Na direta medida em que o comércio exterior chinês se diversifique para outros países que não os EUA, pode-se esperar com muita segurança a diminuição da exposição do governo do país oriental em títulos do tesouro americano. O prenúncio não é bom para os EUA.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).