São Paulo – A China e o Japão têm um histórico de grandes dificuldades no relacionamento bilateral, devido a uma rivalidade regional de muitos séculos. A situação agravou-se com a invasão da Manchúria, em 1933, por tropas japonesas, evento que na realidade deu início à Segunda Guerra Mundial, e com a ocupação daquela região chinesa até 1945. Durante tal período, muitas e terríveis foram as atrocidades cometidas pelas tropas japonesas contra a população civil chinesa. Em Nanjing, na China, há um museu que procura documentar os horrores daquela época para que, registrados na memória, não voltem a se repetir.
O Japão, por sua vez, não tem dado o reconhecimento daqueles fatos que era de se desejar, particularmente nos livros de história, que tratam da matéria com uma superficialidade não aceita pela China. De mais a mais, a reconstrução do Japão como um protetorado dos EUA (Estados Unidos da América), de um lado, e a existência do regime comunista chinês, de outro, não facilitaram a melhoria dos laços diplomáticos entre os dois países asiáticos.
Contudo, com o passar dos anos, as relações entre China e Japão têm sofrido um processo de notável melhoria, levado a efeito pelos importantes progressos havidos, no primeiro país, como resultado das relevantes reformas institucionais da última década; de sua acessão à OMC (Organização Mundial do Comércio); e de seu extraordinário desenvolvimento econômico. Assim, hoje a China ultrapassou os EUA como principal parceiro comercial do Japão. De outro lado, o Japão é o principal parceiro comercial da China. Acresce que o Japão é o primeiro investidor estrangeiro na China e observe-se que sua política externa atual é benigna.
Mais ainda, ambos os países reconhecem que têm muito a ganhar com o estreitamento e aprofundamento de suas relações econômicas e financeiras. Nessa perspectiva, nos últimos 20 meses, muitas foram as visitas dos líderes de um país ao outro, a mais recente das quais tomou lugar no dia 6 de maio próximo passado, com a ida ao Japão do presidente chinês, Sr. Hu Jin Tao, para uma série de encontros substantivos com o Sr. Fukuda, primeiro ministro japonês.
Na agenda dos encontros estavam tratativas para melhores relações na área de transferência de tecnologia, de interesse de empresários de ambos os países. Os chineses têm uma grande sede por tecnologias mais eficientes, de maneira a tornar sua indústria mais competitiva, de uma maneira geral. Porém, a tecnologia ambiental adquiriu uma dimensão especial nesse encontro, já que a China busca processos para tratar e minimizar a degradação ambiental no país.
O clima de crescente distensão entre China e Japão, bem como a construtiva busca de maiores e melhores oportunidades de cooperação econômica, comercial, financeira e tecnológica, tem um grande alcance para todo o continente asiático, de muito transcendendo o âmbito meramente bilateral. O altamente provável sucesso nesses entendimentos levará toda a Ásia a um protagonismo sem precedentes na ordem econômica mundial.
Para as empresas brasileiras, o desenvolvimento de uma maior e mais estreita colaboração asiática permitirá uma política de escalas para todo o continente.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).