Londres – Desabaram na semana do dia 16 de fevereiro de 2009 as bolsas de valores da Europa oriental, em vista de indicadores macro econômicos a evidenciar uma deterioração profunda da situação nos países anteriormente sob a influência da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, cerca de 20 anos após a queda do Muro de Berlim e de um período de prosperidade financiado em grande parte por empréstimos externos.
Pior ainda, um colapso eventual das economias do leste europeu poderá repercutir gravemente nas economias já recessivas da UE (União Européia), que desembolsaram os empréstimos para os antigos países do Pacto de Varsóvia e lá fizeram substanciais investimentos diretos de capital de risco. Os bancos austríacos, por exemplo, têm uma exposição na região de cerca de 280 bilhões de Euros, ou 70% do PIB do país.
O montante dos empréstimos externos para a Polônia situam-se na casa dos 303 bilhões de dólares americanos; os para a Romênia em 124 bilhões; os para a Hungria em 155 bilhões; os para a República Checa em 200 bilhões; e os para a Ucrânia em 60 bilhões. Além de bancos austríacos, instituições financeiras alemãs, italianas, belgas, portuguesas e francesas estão pesadamente comprometidas na região.
O sentimento de desastre iminente se aguçou a partir do enfraquecimento das moedas da região face ao Euro no corrente ano. De fato, o Zloty polonês já se desvalorizou em 2009 por volta de 15%; o forint húngaro em 14%; o rublo russo em 10%; o koruny checo em 9%, e o iei romeno em 6%. Nos últimos 12 meses, o índice RTS da bolsa de valores russa já caiu aproximadamente 70% em dólares.
Por outro lado, as previsões de desempenho das economias do leste europeu para o presente ano são muito pessimistas. Prevê-se crescimento negativo de 1,4% para a República Checa; negativo de 3% para a Hungria; negativo de 1% para a Rússia; negativo de 4,8% para a Lituânia, negativo de 5% para a Estônia; e negativo de 8% para a Letônia.
Em 2009, vencerão empréstimos outorgados à região no valor aproximado de 400 bilhões de euros, uma parte substancial do Produto Interno Bruto da região. Com a desvalorização cambial e a atividade econômica em queda, aumenta a probabilidade de inadimplência generalizada.
No meio de tal clima de desesperança, o Bird (Banco Mundial), presidido pelo americano de plantão, Robert Zoellick, indicado pelo infame governo de George W. Bush, emitiu um comunicado de sua impotência, e bem assim daquela do FMI (Fundo Monetário Internacional) ao clamar, no dia 18 de fevereiro próximo passado, por uma ação coordenada de parte da UE para salvar o leste europeu. Ora, ações de apoio do gênero fazem parte dos organismos multilaterais Bird e FMI, do qual são membros os países da UE.
Ao reafirmar a impotência, a irrelevância e a inadequação dos Bird e do FMI para ajudar os países do leste europeu a lidar com a presente situação de iminente iliquidez, o presidente do primeiro dá uma grande contribuição para o agravamento da crise mundial.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).