Londres – O agravamento da crise externa traz incertezas sobre a perspectiva de investimentos diretos da Europa no Brasil. Se até então estava claro que os projetos nacionais conseguiriam atrair o capital estrangeiro, agora prevalece o sentimento de indefinição.
A preocupação está na capacidade de financiamento das empresas européias, abatidas diretamente pela turbulência. Do lado nacional, o comportamento do real e das commodities será o principal ponto de análise para os interessados em entrar no país.
Para especialistas, as decisões também passarão pela escolha do momento mais adequado e por uma diferenciação setorial, já que alguns segmentos se mostrarão mais atraentes. As multinacionais com recursos em caixa ganham vantagem neste momento.
No ano passado, o Brasil recebeu a cifra recorde de US$ 34,6 bilhões em investimento externo direto (IED), superando inclusive a era das privatizações. Foi o volume mais alto da América Latina e o quarto maior entre os emergentes, atrás de China, Hong Kong e Rússia. Em uma pesquisa feita pela Organização das Nações Unidas (ONU) antes da piora da crise, o país apareceu em quinto lugar como destino preferido dos investimentos até 2010.
Enquanto os ativos financeiros são afetados diretamente pela atual turbulência, os últimos desdobramentos trazem indefinições para os aportes diretos, que têm como horizonte o longo prazo. Os maiores investidores do mundo são os Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha e Espanha, países que podem entrar em recessão neste ano. Além disso, o colapso de instituições financeiras reduziu a quantidade de dinheiro em circulação e encareceu o crédito.
O efeito começa a ser sentido nas empresas. Recentemente, a Energias do Brasil, subsidiária da Energias de Portugal, desistiu do projeto de térmica a carvão Pecém II e atribuiu a decisão à crise e à volatilidade do câmbio. A Companhia de Concessões Rodoviárias, que tem como parceira a portuguesa Brisa, informou que será menos agressiva nos próximos leilões de estradas.
Emergentes
É fato que o Brasil hoje é visto como um dos emergentes com melhor preparo para enfrentar a crise externa. Como a crise nos países desenvolvidos é bem mais grave, a tendência seria de manutenção dos investimentos das multinacionais nos emergentes, onde está o potencial de crescimento dos negócios e dos lucros.
O advogado Durval Noronha, que tem escritório em Londres, participou de um seminário em Roma no início de setembro sobre investimentos no Brasil. Apesar de admitir que haverá aperto de crédito, Noronha vê boas perspectivas para os investimentos no Brasil. “Temos recebido clientes interessados no país.” Segundo ele, a percepção dos empresários estrangeiros é de que o crescimento nacional é sustentável, uma situação oposta a dos países europeus abatidos pela crise.
O analista Alejando Chacoff, da consultoria Control Risks, concorda que o país está bem posicionado, mas lembra que o momento é de total indecisão. “Ninguém quer ser precipitado em achar que a América Latina será afetada, tampouco em achar o contrário.”