Sem grandes alardes e, principalmente, sem maiores disputas, tornou-se o México um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Mais ainda, nos últimos cinco anos, desde 2001 e incluindo as previsões para 2005, o México proporcionou ao Brasil superávits comerciais totalizando cerca de US$ 12 bilhões, número que representa aproximadamente o dobro daquele que o País realizou com a República Popular da China, no mesmo período.
É certo que a corrente bilateral de comércio entre o Brasil e o México ainda representa apenas a metade daquela que temos com a China, o que evidencia um grande potencial de crescimento a curto e médio prazo. De fato, com cerca de US$ 5 bilhões, a corrente bilateral de comércio entre Brasil e México, temos um enorme desequilíbrio nas trocas, já que os mais recentes superávits anuais brasileiros excedem a US$ 3 bilhões.
A corrente comercial bilateral do Brasil com o México, em 2005, irá suplantar, pelo terceiro ano consecutivo, aquela de nosso país com a França, com quem temos tido tradicionais déficits, com o Reino Unido e com a Itália. O superávit comercial brasileiro com o país latino-americano é superior ao resultado combinado das trocas comerciais com os três importantes países europeus.
Essa situação de grande vantagem brasileira é insustentável no médio prazo, já que um crescimento saudável da relação bilateral impõe uma diminuição proporcional considerável do superávit brasileiro com relação à corrente bilateral total. O México, também um país em desenvolvimento, não poderá indefinidamente sustentar um déficit em contas correntes de cerca de US$ 9 bilhões por ano, situação prevista para o final de 2005.
A melhor forma de atingir essa situação seria o aumento das exportações mexicanas para o Brasil. Para tanto, é importante um incremento da presença comercial de empresas mexicanas no mercado brasileiro. Somente com a presença comercial, as empresas mexicanas poderão melhor avaliar as oportunidades oferecidas e se inserir de maneira efetiva no Brasil, promovendo vendas de seu país de origem.
O México tem hoje uma excessiva concentração de seu comércio exterior com os Estados Unidos da América (EUA), com o qual mantém cerca de 90% de suas trocas globais. Tal estado de coisas traz uma grande dependência a um só mercado e, portanto, uma significativa majoração de riscos. A diversificação é um meio tanto lucrativo quanto eficaz de minimizá-los.
Por muitos anos, o Brasil, como o México, olhou mais para o Norte que para os outros pontos geográficos para suas relações culturais e comerciais. As recentes alterações na política externa brasileira, acompanhadas de um maior realismo do empresariado de nosso país, contribuíram de maneira decisiva para que mais da metade de nosso comércio exterior seja feita com outros países em desenvolvimento.
Embora o México não possa fugir à sua herança geográfica, certo é que muito poderia se beneficiar de uma maior diversificação em seu comércio exterior, bem como em suas relações culturais e sociais. O incremento de vendas mexicanas para o Brasil seria apenas uma decorrência natural de tal estratégia.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).