SÃO PAULO – Relações internacionais é a denominação da disciplina que estuda as interações entre os Estados, para além de suas fronteiras. O estudo das relações internacionais compreende o direito internacional, a política internacional, a história diplomática, a geografia e as relações econômicas internacionais. Dessa maneira, o estudo das relações internacionais é tanto interdisciplinário quanto heterogêneo.
Por conseguinte, as RI (relações internacionais) não têm, para seu exame, uma metodologia unitária própria, mas empregam as aplicáveis a cada uma das disciplinas que a integram. Como disciplina própria, seu estudo começou na Universidade de Gales (Reino Unido), em 1919, e rapidamente expandiu-se pela Europa e, posteriormente, pelos EUA (Estados Unidos da América) e demais rincões do mundo. Ficou a matéria caracterizada inicialmente por um marcante viés dos países desenvolvidos, notadamente calcado nas relações européias e norte-americanas.
Enquanto na Europa e nos EUA formou-se um amplo debate acadêmico a respeito das diversas escolas de RI, no mundo em desenvolvimento a realidade econômica e política fez com que fosse a produção doutrinária mais focada. Assim, na Europa e nos EUA apareceram as escolas realista, behaviorista, neo-realista, pós-modernista e neoliberal.
Por sua vez, nos países em desenvolvimento fundaram-se a escola marxista, a estruturalista e a da teoria da dependência, muitas vezes com elementos de conexão entre elas, como na questão do imperialismo. Muitos dos nacionais dos países em desenvolvimento que foram estudar nos países desenvolvidos receberam uma formação lastreada nas doutrinas lá desenvolvidas e que procuravam afirmar a supremacia dos poderosos.
Frequentemente, perguntam-me os jovens o que acho da disciplina de RI. Tenho dificuldades com a resposta porque, de fato, trata-se de estudo importante no mundo de hoje, reduzido pela facilidade das comunicações e inter-relações econômicas. Todavia, incomoda-me a opção pela graduação em relações internacionais, no sistema educacional brasileiro, já que a disciplina não é profissionalizante.
Dessa forma, serve o curso de RI, a meu ver, como um estudo precursor (ou concomitante) a alguma outra disciplina profissionalizante, como a economia, o comércio internacional, a administração de empresas, o direito ou a diplomacia. Isoladamente, apresenta-se débil.
Assim sendo, parece-me muito melhor para aqueles jovens interessados em ingressar no fascinante mundo das relações internacionais primeiramente uma graduação na disciplina profissionalizante de sua preferência, como o direito ou a economia. Em seguida, uma pós-graduação em relações internacionais seria um complemento a agregar importante densidade acadêmica à formação.
Nos debates que tive a respeito do tema, muitos concordaram com meu princípio, mas pretenderam abrir uma exceção à diplomacia. Eu tenho discordado. Entendo que os diplomatas são generalistas em excesso e que lhes falta uma formação profissional, tanto prática como sólida, para poder fazer frente aos grandes embates econômicos e jurídicos decorrentes das relações internacionais nos dias de hoje.
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).