Até o início desta segunda semana de março, os mercados de ações dos EUA (índice Dow Jones) apresentavam perdas acumuladas em 2009 de 25%, o que praticamente igualaram as perdas (de 33%) havidas em todo o ano de 2008. Dessa maneira, as ações do Citigroup que valiam cerca de U$ 50 em 2007 eram negociadas no início da semana em US$ 1,02.
As da AIG caíram, no mesmo período de cerca de US$ 65 para US$ 0,35. As da General Motors desabaram de aproximadamente US$ 30 para US$ 1,86. As da General Electric, de cerca de US$ 35 para US$ 6,66 e as do Bank of America de aproximadamente US$ 50 para US$ 3,17.
À instabilidade dos mercados financeiros, que tem efeitos sociais devastadores na medida em que afeta a poupança e os fundos de pensão, deve-se acrescentar o colapso dos mercados imobiliários. Notícias divulgadas na semana passada dão-nos conta que em 2009 cerca de 16 milhões de moradias terão valor patrimonial negativo, o que afeta um universo de aproximadamente 60 milhões de pessoas. Isso significa que o valor de mercado dos imóveis residenciais é inferior ao valor das dívidas hipotecárias respectivas.
Tal fenômeno ocorreu devido à prática generalizada de se dar, a tomadores frequentemente de alto risco, créditos imobiliários de 100% ou mais do valor da propriedade combinada com a ampla falta de liquidez e conseqüente queda dos preços. Assim, com o aumento do nível de desemprego, que deverá chegar em 2009 a cerca de 9%, um patamar próximo ou mesmo superior ao do Brasil, a inadimplência chegou a níveis nunca antes observados. Cerca de 3,6 milhões de trabalhadores já perderam os seus empregos nos últimos 12 meses nos EUA.
Como é sabido, a inadimplência dos créditos hipotecários resulta nas execuções das respectivas garantias, que irão de 2,3 milhões em 2008 para 6,4 milhões neste ano, segundo estimativas conservadoras. Os maiores níveis de inadimplemento são observados, como na Grande Depressão de 1929, no Estado da Flórida, seguido pelo Estado da Califórnia. O Judiciário do país está sobrecarregado com as execuções hipotecárias e o resultante drama social é triste.
Não é de se surpreender, portanto, que o presidente do Federal Reserve Bank, o banco central dos EUA, Ben Bernanke, tenha alertado o congresso daquele país, também na semana passada, que a maior prioridade nacional é a estabilização do sistema financeiro, o que está longe de se verificar, a julgar pelo comportamento dos mercados e dos indicadores de produção industrial. Por exemplo, a produção automobilística do país no mês de fevereiro caiu 40%.
Para atingir o objetivo enunciado pelo presidente do Banco Central, a administração de Barack Obama tem promovido um grande número de pacotes de subsídios, de apoio ao consumidor e de gastos públicos que já superaram os 50% do PIB dos EUA, sendo que apenas em apoio ao setor financeiro já foi comprometida uma importância equivalente a 40% do PIB. Até o momento, tais gestões ainda estão por produzir efeitos.
O risco do insucesso de tais medidas é grande e poderá representar um aumento da inflação e o aviltamento do dólar norte-americano, o que seria uma tragédia sem precedentes para a administração macro-econômica dos EUA e para o seu povo. As conseqüências de um eventual colapso do dólar far-se-ão igualmente sentir mundo afora, como nada até o momento na história da Humanidade.
É nesse clima em que é preparada a agenda para a reunião do G-20, a tomar lugar em Londres, no próximo dia 2 de abril, onde os principais falidos, EUA e Reino Unido, tentarão, mais uma vez, impor a sua agenda, inspirada pela típica hipocrisia, que incluirá certamente a manutenção dos subsídios próprios juntamente com a recomendação para que os demais países não caiam no erro do protecionismo.
Quarta-feira, 11 de março de 2009
Advogado admitido no Brasil, Inglaterra e Gales e Portugal. Formou-se em direito pela PUC-SP em 1975. Árbitro do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), e professor de direito do comércio internacional na pós-graduação da Universidade Cândido Mendes (RJ).